Se você já teve em mãos alguma vez uma máquina fotográfica tradicional do tipo reflex, sabe o que significa focalizar a imagem. Câmeras reflex possuem esse nome porque a luz, após atravessar as lentes em direção ao interior da câmera, é refletida por um pequeno espelho inclinado a quarenta e cinco graus, que faz com que a mesma atinja um prisma localizado logo acima deste espelho - e que faz o formato típico de 'castelinho' montado bem no centro do equipamento, acima e um pouco atrás das lentes. O prisma direciona a luz para um vidro fosco - que compõe o visor da câmera - onde a imagem se forma. Com isso é possível 'dar uma espiada' e ver a imagem exatamente como será reproduzida no filme. Girando-se para um lado e para outro um anel apropriado na objetiva, consegue-se fazer com que a imagem fique mais ou então menos nítida. Isso ocorre porque o anel na verdade aproxima ou afasta as lentes do ponto onde se forma a imagem (o vidro fosco). E basicamente é nisto que consiste o ato de focalizar uma imagem: basta pressionar agora o botão disparador, o que faz com que o pequeno espelho seja rapidamente levantado para que a luz atinja a superfície do filme, localizado logo atrás e.... clic !! a foto está feita.

Mas o assunto foco de uma imagem envolve muito mais do que isso. Voltando à nossa câmera, ao apontá-la para uma sala com várias pessoas conversando em uma mesa, é possível girar o anel de foco e assim tornar bem nítido o relógio de alguém localizado bem próximo à câmera. Olhando nesse momento para o visor, é possível em determinadas situações de ajuste da câmera, que as demais pessoas ao fundo não estejam muito nítidas. Muito bem, vamos fazer novamente, agora girando o anel até que a imagem de uma dessas pessoas ao fundo fique nítida. Porém, agora é a pessoa em primeiro plano que deixou de aparentar nitidez. Isso nos leva a entender o foco como sendo um local preciso, escolhido dentro da área onde econtram-se os objetos / pessoas enquadrados, para aparentar total nitidez. O que não deixa de ser verdade. Mas o que dizer então de algumas fotos que vemos às vezes, onde tudo, ou quase tudo, em uma determinada região, parece estar nítido? Isso nos leva ao conceito de profundidade de campo, e que pode ser definido como a região onde tudo aparenta estar razoavelmente nítido na imagem.

Por que isso acontece e como acontece? Uma imagem só se forma quando existe luz, e a luz se propaga através de uma infinidade de raios, os chamados raios de luz, que podem ser imaginados como finas linhas luminosas que trafegam sempre em linha reta. Algo como o raio laser, só que imaginando aquele raio tão fino como o mais fino dos fios de seda. Esticado, em linha reta, tem-se o raio de luz. Claro, é uma comparação algo grosseira, mas que serve bem para explicar o que controla a profundidade de campo  de uma imagem. Inúmeros desses raios luminosos atingem a lente da câmera, atravessam-na e vão formar uma imagem na superfície do filme (ou vidro fosco, no exemplo da câmera acima). Agora imagine dois pares de pessoas: em cada par, as pessoas mantém esticado um desses fios de seda. Se essas pessoas segurarem esses fios de modo a cruzá-los formando um "X", estarão representando, onde os fios se encontram, o local exato do foco da imagem. Imagine agora as pessoas da ponta de cima do "X" bem distantes (algumas dezenas de metros) das pessoas da ponta de baixo do "X" : ao olhar para o ponto de cruzamento, ficará difícil apontar o ponto preciso onde os dois fios se encontram, porque eles parecem juntos um pouco antes e um pouco depois desse ponto.

É assim que funciona a profundidade de campo: quando os raios de luz que formam a imagem chegam até o visor / filme em um ângulo bem fechado, não é necessário afastar / aproximar a objetiva até um ponto exato em busca do foco: um pouco mais para trás ou para frente não fará diferença perceptível. No exemplo da mesa, tanto a pessoa em primeiro plano quanto a outra situada logo atrás estarão nítidas. Isso mostra que a profundidade de campo pode ser controlada, bastando para isso fazer com que os raios de luz que atingem o visor / filme cheguem até eles mais abertos ou mais fechados.

Tudo o que foi dito até aqui é válido não somente para a fotografia, como também para o cinema e o vídeo, que funcionam sob o mesmo princípio básico, apenas trocando a película estática pela móvel na câmera de cinema e pelo CCD (Charged Coupled Device) na câmera de vídeo.

Vários fatores podem controlar a profundidade de campo, entre eles, a quantidade de raios de luz coletada pela lente. Explicando melhor: um dispositivo chamado diafragma ou íris cria um orifício de tamanho variável através do qual a luz passa após ter atravessado as lentes. Se esse orifício for pequeno, entrarão por ele somente os raios de luz que incidem em ângulo fechado. A conclusão é fácil: profundidade de campo maior. Ou seja, o uso de pequenas aberturas acarreta profundidades de campo maiores. O inverso também é verdade: quanto maior a abertura, menor a profundidade de campo.

Outro fator que afeta a profundidade de campo é a distância do objeto / pessoa focalizada à câmera. Assim, para objetos / pessoas situados distantes da lente, a faixa de nitidez estende-se bem à frente e bem para trás do objeto. Porém, para objetos / pessoas próximos da lente, esta faixa se reduz drasticamente. A causa é a mesma descrita acima para o uso da íris: os raios provenientes de objetos situados longe da câmera formam um leque fechado, os situados próximo da câmera formam um leque aberto.

Mais outro fator: a distância focal da lente. Lentes que convergem (inclinam em direção ao centro) muito os raios de luz formam a imagem mais próximas de si do que as que convergem pouco. Se os raios provenientes da lente que atingem o filme formarem um leque fechado (convergem pouco), a profundidade de campo será maior do que se este leque for aberto (convergem muito). A distância focal é a metade da medida da distância entre a lente e a imagem formada: lentes pouco convergentes tem distância focal grande, lentes muito convergentes tem distância focal pequena. Agora, a informação que leva à conclusão: lentes de distância focal pequena são as lentes grande-angulares e lentes de distância focal grande, as tele-objetivas. No zoom, correspondem às posições Wide e Tele, respectivamente. Assim, o ajuste Wide aumenta a profundidade de campo e o ajuste Tele, diminui.

Finalmente, a profundidade de campo varia com a área da imagem formada pela lente. Quanto menor esta área, maior a profundidade de campo da imagem, mantendo-se os demais fatores acima citados inalterados. É por este motivo que as cenas de filmes geralmente apresentam profundidade de campo menor do que as do vídeo: enquanto que em cinema geralmente se trabalha com películas de 35mm de largura (cuja imagem central, descontando os espaços laterais para as perfurações possui 25mm de largura), em vídeo os CCDs mais comumente utilizados possuem área bem menor. Um CCD de 1/2 pol. (medida de seu diâmetro) por exemplo, possui 11mm de largura e um CCD de 1/3 pol. possui 8,5mm de largura. O mesmo ocorre em cinema, onde profundidades maiores são obtidas mais facilmente com bitolas menores (70mm / 35mm / 16mm e 8mm).

Este fator também contribui como causa secundária para o chamado film look, o aspecto visual apresentado pelos filmes que o vídeo e a TV normalmente não possuem (cuja principal causa é a diferença na latitude de exposição). É por isso que ao assistir um filme percebe-se que a maioria das cenas de primeiro plano possuem pouca profundidade de campo.

A abertura, a distância focal e o quanto se está distante ou não dos objetos e pessoas enquadrados permite regular e controlar a profundidade de campo de uma determinada cena. Mais do que isso, permite moldar a imagem de maneira a transmitir o sentimento e as sensações desejadas ao expectador. Desfocar o fundo que está atrás de um ator ou atriz concentra todo o drama e emoção na atuação do personagem, o que é desejado em determinadas cenas. Outras no entanto pedem o contrário, onde elementos do cenário devem participar mais ativamente da composição da imagem. Ou mesmo outros personagens presentes à cena. Colocando dessa maneira, o ideal deixa de ser a busca da imagem perfeitamente focalizada, com grande profundiade de campo e passa a ser o controle desse valioso recurso para ajudar a contar uma história.