Fotografia é uma palavra criada a partir dos termos gregos "photos", que significa luz e "graphein", que significa desenhar. E seu nascimento teve início em um dia de verão do ano de 1822, quando o inventor francês Joseph Nicéphore Niépce conseguiu registrar a primeira imagem fotográfica, obtida através de uma câmara escura.

Até esse dia a câmara escura havia sido utilizada somente para obter-se desenhos, construídos através das imagens que ela projetava nas paredes. Era na verdade uma grande caixa, vedada à luz, dentro da qual podia-se entrar e observar em uma de suas paredes, a imagem, de ponta cabeça, formada pela luz que entrava ali por um minúsculo orifício. Por ser um orifício tão pequeno, necessitava muita luz para que a imagem ficasse visível, o que, via de regra, conseguia-se fazendo com que a caixa captasse algo existente somente em locais abertos. Era, em outras palavras, o que se conhece hoje como uma "externa".

No início dos anos 1800, Joseph já sabia das propriedades do um cristal branco chamado cloreto de prata (AgCl), conhecido desde muitos anos antes - os alquimistas da Idade Média por exemplo já tratavam dele em seus relatos. Ao ser aquecido ou então receber luz, transforma-se em Cl (cloro) e Ag, o metal prata.

Nessa época, ele teve a idéia de cobrir um pedaço de papel com AgCl, fazendo essa operação em um local protegido da luz; a seguir, expôs o papel durante várias horas à luminosidade de uma imagem formada dentro de uma câmara escura. Sua idéia era conseguir registrar imagens sobre material de litografia, permitindo criar litogravuras sem ter que desenhá-las, como era o costume na época. Niépce era um mau desenhista e buscava uma forma alternativa de obter litogravuras. Houve um sucesso parcial, pelo menos para o que ele queria: acabou ficando com imagens em "negativo", quando na verdade precisava, para poder criar as litogravuras, imagens em "positivo".

Assim, continuou pesquisando uma solução para o problema. Encontrou outra forma de fazer, mais tarde, trocando o AgCl por betume, uma substância existente na natureza (da qual se obtém por exemplo o asfalto das ruas ). Joseph achou um tipo especial de betume, chamado "betume branco da Judéia", que endurecia ao ser exposto à luz. Fez experiências onde ele era aplicado sobre uma placa metálica de estanho; a parte não solidificada, por não ter sido exposta ou ter sido pouco exposta à luz, podia ser retirada da placa através de sua lavagem com preparados especiais - algo que lembra a revelação de hoje?

Levando uma placa montada dessa forma para dentro de uma câmara escura, fez o primeiro registro de uma imagem da natureza, no ano de 1826, em outras palavras, a primeira fotografia da história - a câmara estava apontada para seu quintal. e o tempo de exposição foi nada mais do que 8 horas! Surpreso, Niépce percebeu que havia criado algo novo, uma vez que o resultado, por não ser formado por linhas e contornos definidos e sim por uma extensão de tons diferentes, não podia ser aproveitado para a confecção de litogravuras. Batizou então seu invento como "heliografia", deduzindo o nome do processo que a gerava, o registro de imagens com a luz solar do dia.

No ano seguinte viajou até as proximidades de Londres levando consigo algumas heliografias e acabou mostrando-as a um pintor especialista em desenho de plantas para estudos de botânica. Este então sugeriu que Joseph mostrasse seu invento para a Royal Society, mas, com receio de passar adiante o segredo da técnica, Joseph contou só metade da história, levando ao desinteresse dessa sociedade.

Voltou então para a França, onde aperfeiçoou sua heliografia durante 3 anos, passando a incorporar nelas um processo de escurecimento das sombras utilizando iodo. Fez então um contrato com outro francês, Louis Jacques Mandé Daguerre, um artista que havia se especializado em técnicas de ilusões teatrais, entre elas, a do diorama, onde o público, sobre uma plataforma giratória, apreciava um cenário montado com diversos truques de pinturas em tecidos e controle complexo da iluminação natural através de janelas e clarabóias estrategicamente posicionados. O espetáculo visual era tão elaborado que o público tinha a nítida impressão de estar vendo cenários reais da natureza à sua frente durante os minutos em que a exposição durava.

Daguerre estava interessado no invento de Niépce pensando em utilizá-lo como parte de suas montagens de dioramas, que faziam bastante sucesso na época. Após o contrato, aperfeiçoou, com o tempo, o invento, passando a utilizar prata iodada como material sensível a luz. Com a morte de Niépce dois anos depois, Daguerre passou a ter a propriedade da heliografia e continuou a desenvolvê-la. Anos mais tarde, em 1839, o governo francês adquiriu a patente da então denominada daguerreotipia, tornando-a disponível público alguns meses após.

O processo da daguerreotipia consistia em expor ao iodo placas de cobre recobertas de prata, obtendo assim o iodeto de prata sobre a superfície dessas placas. Isso era equivalente ao filme fotográfico ainda não exposto à luz, como conhecemos hoje, ou seja, tinha que ser protegido da luminosidade. Após a exposição nas câmaras escuras (durante vários minutos, tempo necessário para que fosse possível o registro da imagem - como um filme dos nossos dias ISO muito baixo), era levada para o que seria a nossa revelação atual. Esta consistia em vaporizar mercúrio aquecido a 75 graus Celsius sobre a placa, para que o mercúrio se unisse (amálgama) com a prata resultante do cloreto de prata exposto à luz. Onde não havia luz ou pouca exposição à luz (áreas de sombras ou baixa luzes) permaneciam maiores quantidades do cloreto e regiões mais claras apresentavam mais metal prata resultante dessa reação. O objetivo da revelação era retirar a prata dessas regiões mais claras, formando assim um resultado com diversos tons de contraste, em outras palavras, a imagem fotográfica. A água salgada completava o processo, fazendo o que se conhece hoje por "fixar" a imagem.

Como se pode perceber, na época manipulavam-se diversos elementos químicos perigosos nesses processos, sem o uso de nenhuma proteção adequada, uma vez que não eram conhecidos muitos de seus efeitos negativos sobre o organismo das pessoas, entre eles, o vapor de mercúrio.

As imagens obtidas pela daguerreotipia eram muito sensíveis, frágeis e delicadas: necessitavam proteção contra o ar e contato manual e desta forma eram encapsuladas em estruturas de vidro. A maioria dos daguerreótipos era do tipo portrait, não se imaginava outro tipo de registro de cena à época. Mais tarde alguns registros de ruas de Paris foram feitos, surpreendentemente não mostrando ninguém, apesar da intenção do fotógrafo de captar o movimento das pessoas.

Descobriu-se então que isso era devido ao longo tempo de exposição necessário para fixar algo que se movia - quando se faziam daguerreótipos exigia-se que as pessoas ficassem à frente do equipamento imóveis durante muito tempo, um comportamento difícil de obter-se, principalmente de crianças. No entanto, surpreendentemente existem registros desse tipo feitos de crianças pequenas, provavelmente conseguidos com muita dificuldade!

Essa característica de excluir pessoas e objetos em movimento no registro fotográfico aparece nas pinholes, as máquinas fotográficas que consistem em uma caixa simples com um minúsculo orifício para entrada de luz.

A fotografia de Daguerre não podia ser reproduzida: como uma foto do tipo Polaroid, não era possível fazer cópias de uma mesma imagem. Isso ocorria pelo fato de não existir no processo o que conhecemos hoje como "negativo". Mas então, apareceu na história um inglês chamado Henry Fox Talbot.

Talbot desejava criar uma alternativa ao daguerreótipo, que havia sido patenteado, fora da França, somente na Inglaterra. Desenvolveu então um processo um pouco diferente, que usava papel ao invés de placas metálicas como suporte ao iodeto de prata. Após a exposição, uma solução ácida oxidava a prata liberada pela decomposição pela luz do iodeto de prata. A prata oxidada era fixada com o uso de brometo de potássio. A grande diferença desse processo é que ele criava uma imagem em negativo, ao contrário do positivo criado pela daguerreotipia. O negativo então podia ser utilizado para criar diversas cópias positivas.

Por causa de uma questão de patente e pagamento de royalties, seu processo espalhou-se muito pouco pelo mundo: Henry havia patenteado sua técnica em todos os países, o que exigia pagamento por parte de quem desejasse utilizá-la. Por outro lado, Daguerre patenteou seu invento somente na Inglaterra, o que liberou seu uso para o resto do mundo sem problemas com royalties: isso fez com que ele se tornasse bem mais popular do que o processo de Talbot, chamado por ele de calotype. Por um lado, Daguerre contava com os pagamentos feitos pelo governo da França que havia comprado sua patente; de outro, Talbot havia investido considerável soma de dinheiro no desenvolvimento da calotipia e precisava obter retorno, daí ter feito a patente com caráter mundial.

Além disso, o suporte-papel utilizado por Talbot na época não trazia a mesma nitidez permanente que o suporte metálico da daguerreotipia - as fibras do papel degradavam a imagem produzida. A história começaria a mudar no entanto no ano de 1851, mesmo ano da morte de Daguerre, através de um processo que utilizava uma solução úmida sobre a placa que registrava as imagens. Algumas etapas de preparação eram necessárias para criar-se uma "gelatina" (colóide, formado pela mistura de piroxilina em álcool e éter) contendo o iodeto de prata, e esta era espalhada sobre uma superfície de vidro, na verdade a "chapa" fotográfica a ser sensibilizada. A placa deveria ser exposta à câmera ainda úmida, e revelada em muito pouco tempo, antes que secasse e perdesse suas características.

O processo em si era o início da grande era da fotografia como a conhecemos hoje: de fato, a limitação da placa úmida e do pouco tempo disponível para uso restringia seu emprego aos estúdios, não era prático levar a campo um equipamento com essas características. Mas, por outro lado, após a revelação, tinha-se pela primeira vez um negativo como o conhecemos hoje, em um suporte transparente, que na época, era de vidro e em 1888 passou a ser um filme de celulóide. Esse negativo transparente permitia com mais facilidade a confecção de cópias da mesma fotografia, processo que na técnica de Talbot não possuía muita qualidade nem praticidade.

O salto final veio quando a gelatina que recobria o vidro, que era úmida, passou a poder ser fabricada na forma seca. O que não foi conseguido de forma simples, e sim após muitas e muitas tentativas através de diferentes processos, basicamente tentando recobrir a gelatina com alguma substância que a protegesse do ressecamento - evitando assim que perdesse a sensibilidade.

A idéia final no entanto foi em uma direção um pouco diferente, alterando o processo em sua raiz: ao invés da gelatina da forma como era preparada, os britânicos Bolton e Sayce propuseram em 1.864 o preparo de uma emulsão com sais de prata com a qual a chapa de vidro era fabricada. Essa emulsão não era úmida e permitia a revelação muito tempo depois da exposição ter sido feita. Outros pesquisadores contribuíram, quase simultaneamente, com diversos aperfeiçoamentos em torno da mesma idéia.

Uma história que levaria, após a substituição das placas de vidro pelo celulóide, ao uso atual da base de triacetato de celulose, fino e ao mesmo tempo muito resistente e flexível. A troca pelo celulóide também possibilitaria o desenvolvimento do cinema, anos mais tarde.

Niépce não poderia imaginar no entanto o que viria a ocorrer mais de 1 século depois, quando toda essa química iria ser substituída com inúmeras vantagens por montanhas de zeros e uns, a captação digital das imagens. O fim do filme fotográfico como o conhecemos já está anunciado, bastando ainda, em algumas aplicações, a melhora em algumas características do registro digital, notadamente na área de latitude de exposição. Algo que, em breve, estará dentro de nossa realidade.