É comum ouvirmos que a conquista e a exploração do espaço traz, frequentemente, diversos avanços em vários setores relacionados com o nosso dia a dia. Muitos produtos que usamos hoje, como o conhecido velcro, tiveram origem no desenvolvimento das naves espaciais. Com a camada felpuda desse material revestindo partes da parede interna das naves, objetos com pequenos pedaços da camada áspera colados em si poderiam ser ali fixados com facilidade, evitando-se que permanecessem flutuando.

O Timecode também é um desses subprodutos da era espacial: no final dos anos 60, a NASA precisava de um sistema que permitisse manter o histórico preciso do funcionamento dos principais instrumentos dentro das espaçonaves Gemini e Apollo (gravado em longas fitas de telemetria). Assim, foi desenvolvido um sistema que indicava, com precisão de frações de segundo, em que instante cada uma das informações gravadas nessas fitas tinha ocorrido. Em 1967 a empresa EECO - Electronic Engineering Company of America adaptou o sistema para uso em vídeo, colocando-o no mercado com o nome On-Time. Em 1972, foi padronizado pela SMPTE - Society of Motion Picture and Television Engineers.

O Timecode é um processo utilizado para marcar, com precisão, cada quadro na sequência de imagens gerada dentro do sinal de vídeo, facilitando a edição e a sincronização das mesmas. Tomando-se como base por exemplo o padrão NTSC, onde a cada segundo são gerados 30 quadros, cada quadro gerado recebe uma numeração independente, do tipo HH:MM:SS:QQ, onde HH=hora, MM=minutos, SS=segundos e QQ uma sequência numérica representando os 30 quadros existentes dentro de cada intervalo de um segundo. Ao contrário da numeração imprecisa do tipo "HH:MM:SS" exibida no painel do videocassete da sua sala de visitas, o Timecode vai além, permitindo acesso individual quadro a quadro.

A edição linear utilizando equipamentos que conseguem ler e gravar estes códigos é muito mais precisa do que a feita sem utilizá-los e na edição não-linear seu uso é automático: o próprio software trata o material editado utilizando o conceito de Timecode, ou seja, numerando um a um seus quadros.

O sistema de numeração utilizado segue o princípio de um relógio digital: assim como no primeiro minuto do dia a hora é representada por "00", no último minuto do dia a hora é representada por "23". O intervalo das 24 horas do dia pode então ser representado por "00" / "01" / "02" ... "23". Analogamente, os minutos e os segundos também são numerados de "00" a "59".O intervalo de numeração dos quadros ("QQ" no exemplo acima) depende do formato utilizado. No sistema NTSC, que trabalha com 30 quadros/segundo, QQ vai de "00" a "29"; no sistema SECAM por exemplo, que trabalha com 25 quadros/segundo, QQ vai de "00" a "24", que é a mesma numeração utilizada nos Timecodes empregados no cinema. Sim, o cinema também usa Timecode, como falaremos adiante.

O primeiro quadro é o quadro 00:00:00:00, o segundo quadro 00:00:00:01, e assim por diante. No processo de edição, efetuar um corte para separar um trecho com uma hora de duração significa cortar entre 00:59:59:29 e 01:00:00:00 (e não entre 01:00:00:00 e 01:00:00:01).

Geralmente o Timecode é gravado pela câmera de vídeo (quando a câmera possui esta opção, o que depende do tipo de câmera e do tipo de formato de vídeo utilizado), no momento da captura da imagem, sendo armazenado na fita em uma área próxima à mesma. Existem vários tipos de Timecode: em alguns deles, é possível fazer-se a gravação deste tipo de informação na fita de maneira independente da imagem gravada (antes ou após as imagens terem sido capturadas).

Assim, é usual no trabalho com alguns tipos de formato de vídeo (formatos DV por exemplo) inserir uma fita virgem na câmera e acionar a gravação (REC) da mesma, com a objetiva tampada, até o seu final, para que a informação de Timecode fique gravada na fita inteira. A gravação subsequente de imagens sobrepostas a esta "imagem preta" previamente gravada não irá alterar o Timecode já gravado: a câmera normalmente só grava a informação de Timecode em trechos onde não exista esta informação (trechos virgens ou apagados). Este procedimento permite ter-se uniformidade na numeração, tornando mais fácil a localização dos vários trechos gravados.

No entanto, o procedimento acima é desnecessário se a fita virgem ou apagada for inserida na câmera e for gravada de modo a não deixar nenhuma parte "virgem" entre os diversos trechos. Assim por exemplo, gravar 5 segundos, retroceder e reiniciar a gravação a partir do quarto segundo fará com que a câmera continue numerando sequencialmente os quadros a partir do quinto segundo (sexto, sétimo, etc...). Porém gravar 5 segundos, avançar 2 e reiniciar a gravação fará com que a câmera, dependendo do formato de vídeo utilizado, reinicie a numeração dos quadros no Timecode. Isto ocorre em alguns formatos (como no DV por exemplo) e não ocorre em outros (como no Betacam por exemplo). Nestes, o Timecode utilizado é do tipo SMPTE, que estabelece um horário corrido para a numeração HH:MM:SS associada à numeração QQ dos quadros: a numeração será sempre crescente, independente do ponto da fita a ser gravado no momento seguinte.

Existem diferentes formas de se gravar um Timecode do tipo SMPTE. Uma delas é o LTC , outra é o VITC - mais detalhes adiante. O SMPTE Timecode permite a escolha (disponível em algumas câmeras, sobretudo do segmento profissional) da forma de se gerar a numeração. Na forma Record Run (mais comum) é registrado o tempo decorrido de gravação na fita, contado em horas, minutos, segundos e quadros. Na forma Free Run (ou Time of Day) a parte horas / minutos / segundos da numeração é obtida a partir de um relógio digital existente na câmera, sempre em funcionamento, independentemente de estar sendo feita ou não alguma gravação. Este tipo de Timecode é útil na sincronização de várias câmeras em um evento. O relógio interno das câmeras é sincronizado entre elas e a partir deste momento, mesmo que existam interrupções ou até troca de fitas nas câmeras, no momento da edição é possível sincronizar as várias fontes da mesma imagem.

Na forma User Set, é possível informar para a câmera o valor inicial a ser considerado para HH:MM:SS:QQ; neste modo, ao invés da digitação da hora real, é usual inserir-se um número em "HH" representando o número da fita utilizada no momento. Na forma External o Timecode é obtido não do relógio digital da câmera e sim de uma fonte externa geradora de Timecode, sendo utilizado geralmente em situações (estúdios por exemplo) onde mais de uma câmera esteja atuando. Na forma Jam-Sync (utilizada juntamente com a forma Free Run) o relógio digital da câmera é inicializado através de uma fonte externa geradora de Timecode, sendo a seguir a conexão entre esta fonte e a câmera desfeita

Os vários tipos existentes de Timecode são gravados de diferentes maneiras junto com a imagem. Alguns dos tipos mais utilizados são os SMPTE Timecode (LTC, VITC), o DV Timecode e RCTC .

O LTC (Longitudinal Timecode ou Linear Timecode) é um dos tipos do Timecode SMPTE. No formato VHS, ele é gravado longitudinalmente na fita (daí seu nome), em uma das bordas da mesma. Para isso, é utilizada a trilha de áudio mono existente neste local, ou uma das 2 trilhas de áudio estéreo de baixa fidelidade (canal esquerdo / direito) ou então (em equipamentos profissionais) uma trilha longitudinal específica para este fim. Uma vantagem deste tipo de Timecode é poder ser acrescentado na fita após as imagens terem sido captadas (post-striping): a gravação do Timecode LTC não apaga a imagem pré-gravada, por ser feita fora das trilhas de vídeo. No entanto, em equipamentos não profissionais com trilha longitudinal do tipo mono esta operação (quando disponível no equipamento) apaga o som gravado nesta trilha.

O VITC (Vertical Interval Time Code) é a outra forma pelo qual o Timecode do tipo SMPTE pode ser gravado. Ao contrário do LTC Timecode, no VITC a numeração dos quadros é colocada junto com o sinal de vídeo, na verdade embutida em seu interior, dentro de uma área não visível do mesmo denominada pulso vertical de sincronismo. O VITC não interfere com as trilhas de áudio; por outro lado, não pode ser regravado sem danificar a imagem gravada no local, uma vez que faz parte do próprio sinal de imagem. Assim, ao contrário do LTC, a única forma de gravá-lo é juntamente com a gravação do sinal de imagem, o que pode ser feito na gravação do sinal original pela câmera (ou VCR) ou durante a cópia (duplicação) de uma fita para outra.

DV Timecode (DV Time) é o Timecode utilizado normalmente no formato DV de vídeo. Nas fitas deste formato, é gravado nas trilhas em uma área denominada Subcode. O DV Timecode é do tipo non-drop Timecode e é reinicializado (00:00:00:00) sempre que a gravação é efetuada em um trecho virgem da fita.

RCTC (Rewriteable Consumer Time Code) desenvolvido pela Sony, é um Timecode voltado para uso em equipamentos nos formatos 8 mm e Hi8 do segmento consumidor. Nestas fitas existe um setor nas trilhas destinado exclusivamente à este tipo de informação, isolado dos setores de áudio e vídeo. E assim como no Timecode LTC, também no RCTC é possível efetuar opcionalmente sua gravação sobre um material pré-gravado (post-striping) sem destruir este. Este tipo de Timecode não possui precisão a nível de quadro: a mesma pode variar em torno de 2 a 5 quadros.

Em cinema, além da utilização durante o processo de edição, quando o filme é transposto para vídeo (em formatos de alta qualidade), facilita o trabalho de sincronização do som e imagem após a filmagem (o som não é gravado na câmera), podendo ser exibido em um visor digital embutido na claquete utilizada antes de cada tomada ser efetuada:

Neste caso o Timecode mostrado no visor é ligado ao equipamento de gravação de som e a transmissão do sinal para a claquete pode ser feita com ou sem fio (via rádio-transmissor). Existem claquetes 'inteligentes', que possuem um gerador embutido de Timecode. Portanto a partir de agora, da próxima vez em que você acessar o Making Off no DVD de algum filme, procure pela claquete eletrônica: o Timecode vai estar lá.