Quando a TV começou de fato a se expandir, na década de 40, após diversas experiências não comerciais ao longo dos anos anteriores, os cenários apresentados mostravam tudo o que havia no cotidiano daquela época. Menos computadores. Esse mundo digital, hoje para todos nós já parte de nossas vidas desde antes do nascimento, com um corriqueiro termômetro digital onde a mãe confere sua temperatura, não fazia no entanto parte desse cenário.

As informações transmitidas pelos equipamentos de TV eram todas elas analógicas, o que pode ser pensado como a tradução das imagens em uma sequência de variação de voltagens em um sinal elétrico. É familiar para todos a imagem do gráfico do monitor cardíaco no hospital. Grosso modo, podemos pensar no sinal analógico de vídeo como algo assim, porém sem necessariamente a mesma aparente regularidade na variação da voltagem. Ela é mais intensa ou menos intensa conforme em dado ponto da imagem a luminosidade seja maior ou menor. Como a imagem da TV é formada através de linhas horizontais desenhadas como se escreve, da esquerda para a direita, de cima para baixo, nos locais onde na imagem exista maior claridade este sinal será mais intenso.

Era assim o sinal de vídeo denominado analógico, uma "analogia" ao que ocorria na imagem, mais claro, "mais sinal", menos claro, "menos sinal". Alguns anos mais tarde surgiram os primeiros equipamentos que permitiam "gravar", armazenar de forma definitiva esses sinais. Sim, as primeiras imagens da TV, em seus primeiros anos, não podiam ser registradas e a memória que se tem hoje dessas imagens foi toda construída através de alguns filmes feitos à época, captando cenas das transmissões de alguns programas.

Esses primeiros gravadores de imagens registravam o sinal analógico em fitas magnéticas - era tudo o que se tinha nessa época para armazenar sinais elétricos em um grande e consistente volume, de maneira sequencial e que permitisse sua recuperação posterior também de forma sequencial.

Foi então que os claros e escuros na imagem sofreram uma grande transformação: rejuvenesceram-se, transformando-se em números. Nascia a informação digital. Os computadores trabalhavam muito rápido, mesmo nessa época, para os padrões de quantidade de dados utilizados, apresentando uma verdadeira revolução pela precisão e rapidez na realização de cálculos. As primeiras aplicações, o trabalho com números e letras, trouxe-os para as aplicações financeiras e científicas. Mas porque não levá-los até o tratamento das imagens? Surgia então o processo de digitalização das imagens analógicas.

Toda imagem digital, inclusive nos dias de hoje, nasce como imagem analógica, somente após esse registro, é ela convertida, dentro das câmeras, para os algarismos "0"s e "1"s que compõem os números binários. E desta forma gravada: em 1995 surgia o primeiro sistema de gravação de vídeo digital voltado para o grande público, o Mini-DV. Ao invés de gravar pulsos variantes de voltagem elétrica nas fitas, como faziam formatos como o VHS, Hi-8 e diversos outros até então, gravava os "0"s e "1"s nas mesmas fitas. A forma de gravação era a mesma, também pulsos elétricos, afinal, a fita e o processo de registro de informações naquela tira plástica revestida com um pó metálico era o mesmo. Mas esses pulsos eram regulares, representavam somente duas situações, correspondentes aos zeros e uns citados acima.

Os anos passaram-se e outras formas de registro de imagens foram aparecendo, como os discos ópticos por exemplo. Neles, ao invés de trechos magnetizados, tinham-se trechos que refletiam ou não a luz de um raio laser direcionado para sua superfície - bingo, de novo a capacidade de emular os zeros e uns.

Já antes e bem antes disso, a indústria da informática utilizava uma forma de registro de informações em pequenas placas parecidas com placas comuns de circuitos eletrônicos: eram mas memórias sólidas. Nem fita nem disco: eram as memórias sólidas não voláteis. O termo memória sólida era empregado para diferenciar das outras formas de registro de informações, onde o meio empregado era móvel, como a fita ou o disco. E o termo "volátil"? Se tentarmos procurar em nosso cotidiano algo assim, chegaremos aos solventes, como o álcool por exemplo. Ele evapora-se rapidamente, alguns minutos após e a superfície molhada não apresenta vestígios aparentes de sua presença. Em computação, memórias voláteis, ou seja, temporárias, eram usadas já a algum tempo. Hoje em dia uma das especificações de computadores é quando de memória RAM ele possui. Essa memória, sigla para Random Access Memory, é uma memória volátil. Isso em eletrônica significa que ela depende de energia elétrica para manter seus dados. Ora, ao desligar o computador interrompemos justamente o fornecimento de energia: os dados armazenados nessa memória apagam-se, "evaporam-se" como a mancha de álcool na mesa.

Na década de 80 esse fato fazia um pesquisador japonês perder algumas noites de sono, obcecado pela idéia de criar uma memória que não perdesse seus dados quando a energia elétrica fosse retirada. Trabalhando a mais de 10 anos na Toshiba, o dr. Fujio Masuoka acabou conseguindo concretizar sua idéia: inventou uma memória sólida não-volátil, a hoje conhecida flash memory. Anos mais tarde receberia um prestigioso prêmio por sua invenção, cujo nome foi sugerido por um colega seu na Toshiba: na época, apagar informações de outras mídias regraváveis não-voláteis, como uma fita magnética por exemplo, era um processo demorado. Mas na memória criada pelo dr. Fujio não: bastava um comando eletrônico e tudo desaparecia, em um breve instante, como o piscar de um "flash" fotográfico.

Anos mais tarde a indústria da informática já empregava esse tipo de memória, em substituição aos antigos circuitos de memória ROM utilizados pelos computadores em situações como a de serem religados (boot), executando trechos de programas ali armazenados de forma permanente. A tecnologia foi denominada EEPROM, com outros tipos de memória surgidos ao longo de tempo, significando que seu conteúdo podia ser apagado (na época, sempre totalmente) e reescrito, daí os termos "Electrically Erasable Programmable" e feito isso, ser somente lido ("Read-Only Memory", compondo a sigla EEPROM) até nova regravação total.

Com o tempo houve um grande avanço nas características dessas memórias, ficando para trás limitações como apagamento total e diversas outras. Os pendrives atuais, que a cada dia apresentam-se sob as mais inusitadas formas, comportam-se como um disco rígido (HD) externo de computador, contando com as mesmas facilidades, aliada à grande portabilidade.

Mas pendrives são descendentes de uma grande e variada família, nascida na década de 90 quando a memória flash "saiu" de dentro dos computadores para fora, com um cartão metálico do tamanho de um cartão de crédito comum, o cartão PCMCIA. Criado pela associação Personal Computer Memory Card International Association, o PCMCIA (depois simplesmente PC Card) abrangeu com o tempo não só a função de memória, como inúmeras outras, um modem para um laptop se comunicar com a rede é uma delas. Surgiram depois tamanhos e padrões menores e diversos nomes gravados na memória de fotógrafos em busca de novidades: as máquinas fotográficas digitais gravavam imagens em cartões CompactFlash, SmartMedia, MemoryStick, Secure Digital e vários outros. Outras aplicações, como telefones celulares, jogos eletrônicos portáteis e consoles de videogames aderiam ao uso desses cartões. Prevê-se com o tempo inclusive a substituição total dos HDs dos micros por estes tipos de cartões.

No segmento de vídeo, surgiram as câmeras voltadas para uso doméstico, o chamado segmento consumer, onde muitas vezes faziam duplo papel, registrando imagens em movimento e armazenando fotos em cartões de memória. Atualmente esse mercado é muito grande e variado, tem-se equipamentos onde o cartão embutido dentro da câmera não pode ser removido e outros em que é do tipo removível.

Sua capacidade foi também aumentando, geralmente seguindo números em potência de 2, como 256Mb... 512Mb... No ano de 2005 houve um salto, com os cartões de 1 e 2Gb anunciados. Começava a tornar-se aos poucos viável seu uso em equipamentos de vídeo fora do âmbito doméstico. Prevendo isso a Panasonic lançava seu sistema P2 de armazenamento de dados de vídeo. Utilizando 4 cartões do tipo SD conectados entre si, em uma estrutura física idêntica à do PC Card, surgia o cartão P2 e as câmeras que faziam gravação nesse formato. A mais conhecida tornou-se a AG-HVX200. Seu sinal, DVCPROHD, só pôde ser gravado nessa câmera, compacta e de baixo custo devido ao uso do cartão. Sem ele, este tipo de sinal, empregando 100Mbits por segundo de tráfego de informações ("corrente de zeros e uns") só pode ser gravado em equipamentos maiores e bem mais sofisticados e caros, como a fita DVCPROHD nas câmeras Varicam, também da Panasonic. Novos aumentos na capacidade dos cartões SD levam como consequência a cartões P2 com maior capacidade, como 16Gb, 32Gb e a previsão de crescimento contínuo (64Gb, 128Gb...).

A mesma associação PCMCIA propôs para a indústria da computação um novo padrão: ExpressCard. Com tamanho menor do que o do PC Card, passou a ser o padrão nos equipamentos mais recentes e também alcançou a indústria do vídeo. A Sony emprega cartões do tipo SxS, em conformidade com o padrão ExpressCard em suas câmeras da linha XDCAM EX, como a PMW-EX1 lançada em 2007. Cada cartão SxS, criado pela Sony em conjunto com a SanDisk, possui 16Gb de capacidade, suficiente para armazenar cerca de 70 minutos de imagens, uma grande taxa de aproveitamento propiciada pela alta compressão empregada no formato MPEG2.

Comprimindo informações e aumentando a capacidade dos cartões, surge e consolida-se cada vez mais no mercado uma mídia que com certeza irá destronar no armazenamento de vídeo tanto a fita magnética quanto os discos ópticos, os cartões de memória sólida.