A piada, tão antiga que hoje parece ter saído de algum livro de museu, serve para ilustrar a questão de querer registrar sons distantes do local onde encontra-se nosso microfone... ao contrário do que pensava o sujeito na praia conversando com seu amigo que corria risco de se afogar no mar, alertando-o em voz baixa como se estivesse à sua frente, o zoom da câmera ou um binóculo, no caso dele, traz a imagem para perto... e é só.

Existem microfones com características e formatos especiais, entre eles, o chamado shotgun, em forma de um longo tubo colocado na ponta de uma haste (denominada "boom" ou "vara de boom") ou sobre a câmera. Mas eles devem estar próximos da fonte sonora a ser gravada - nenhum microfone faz o que o zoom faz na imagem, ou seja, aproximar como se estivéssemos bem em frente da pessoa que fala por exemplo.

O que microfones como o shotgun fazem é rejeitar, em maior ou menor grau (algumas vezes de forma regulável, conforme o modelo) os sons provenientes de seus lados, tendo-se como resultado somente o áudio preponderante emitido por algo que localiza-se na parte frontal do microfone. E isso é muito diferente de aproximar o microfone da fonte sonora. Ao comparar-se o registro feito por um microfone à vários metros de distância de uma fonte sonora, com outro feito com o microfone situado bem próximo a ela, o que vai ser percebido é que no primeiro caso o nível do áudio está mais baixo, obviamente, do que no segundo.

Se a sugestão for então ampliar a sensibilidade da captação desse microfone situado longe, ou ajustando o volume do áudio na câmera ou outro dispositivo que esteja sendo utilizado ou ainda fazendo isso na fase de pós-produção, veremos que se os níveis passam a se equivaler, isso não é conseguido sem um resultado colateral indesejável: o aumento dos ruídos e de tudo o que faz "barulho" situado entre a fonte sonora e o local onde o microfone de fato está. É então que entra em ação o shotgun, podendo rejeitar em algum grau os sons vindos diretamente dos lados onde ele está situado. Isso pode ser suficiente quando se está de certa forma próximo da fonte sonora, tanto é que muitas gravações são feitas com esse tipo de microfone, ou preso à câmera ou em uma vara de boom, posicionada sobre a fonte sonora ou abaixo dela, muitas vezes revestida com o protetor felpudo ("cachorrinho") para evitar o ruído do atrito com o vento.

Mas não é suficiente quando se está longe da fonte sonora, para eliminar os demais ruídos em uma extensa área ao redor dela. Isso nos leva a uma conclusão - a de que a proximidade é fundamental na captura de áudio de qualidade e a uma análise dos tipos de microfones existentes, quanto a esse aspecto: uma vez que não se deve estar longe, o que acontece quando se está perto mas utilizam-se microfones de diferentes tipos quanto ao padrão de captação?

O microfone, este aparelho de captura de ondas sonoras inventado por Alexander Graham Bell para seu revolucionário invento chamado "telefone", é geralmente classificado de três formas: quanto ao tipo de funcionamento, quanto à forma e quanto ao padrão de captura de áudio.

Tipos de funcionamento

Os principais tipos são os chamados "dinâmico" e "condensador". O dinâmico é o mais simples deles em termos de construção: tem-se um diafragma flexível registrando as vibrações dos sons à frente do microfone - podemos, para comparação, lembrar de como uma folha de papel na frente de uma caixa acústica vibra com os sons que saem dela. Atrás desse diafragma encontra-se uma camada de pequenos grãos de carvão, que são bons condutores de eletricidade. Esta camada, por sua vez, situa-se ao lado de um ímã. Colocando tudo para funcionar: a vibração das ondas sonoras faz com que o diafragma também vibre (como a folha de papel), comprimindo de forma mais intensa ou menos intensa a camada de carvão (algo muito sutil, com movimentos de frações de milímetros, mas que ocorre na prática). A compressão variável acarreta uma movimentação da camada de carvão em relação ao imã, movimentação esta que gera um sinal elétrico extremamente fraco mas presente, que irá representar o som. Esse sinal fraquíssimo naturalmente necessita amplificação para poder ser ouvido, o que é feito pelo aparelho ao qual o microfone está conectado.

A fidelidade deste tipo de microfone é muito boa; de construção robusta e resistente, tem custo relativamente baixo, sendo um dos tipos mais utilizados em uma diversidade enorme de aplicações. Pode-se dizer que ao encontrar um microfone comum existem mais chances de que seja deste tipo do que de outro. Sua sensibilidade no entanto não é excelente: para registrar sinais com qualidade o som captado tem que ser suficientemente forte. Isto significa que microfones dinâmicos funcionam melhor quando posicionados ainda mais próximos da fonte sonora do que outros tipos.

Quando fidelidade sonora é a questão, ganha o do tipo condensador. Também conhecido como microfone capacitivo, necessita, ao contrário do dinâmico, de energia elétrica para funcionar. Assim, microfones deste tipo utilizam pilhas ou baterias embutidas dentro de seu próprio corpo, geralmente maior para acomodar o compartimento das mesmas. Ou então recebem a energia vinda de fora do microfone; neste caso, para não aumentar o cabo do microfone com mais um par de fios para alimentação e não complicar mais o sistema, os construtores descobriram que os próprios fios que transmitem o fraco sinal elétrico do áudio poderia também transmitir o sinal elétrico, bem mais intenso. E um pequeno circuito eletrônico facilmente faz a separação dos dois tipos de sinais no aparelho ao qual esse microfone é conectado, geralmente uma câmera de vídeo.

A energia então, nesse caso, vai da câmera para o microfone e esse tipo de alimentação é chamado phantom power (energia fantasma), por que "não se vê" aparentemente de onde sai, se considerarmos que o cabo de áudio está sendo usado somente para esta função (quando na verdade não está, como vimos). O diafragma utilizado nesses microfones é bem mais fino e delicado do que o utilizado no tipo dinâmico, o que se traduz pelo referido aumento de sensibilidade. Por outro lado, isto também torna o microfone menos robusto, mais delicado e menos resistente ao manuseio.

Existem dois tipos de microfones do tipo condensador: um deles, mais sofisticado, é constituído de duas placas de metal muito próximas uma da outra, uma rígida e outra flexível, fazendo a flexível o papel do diafragma; a energia fornecida pela fonte externa mantém as placas energizadas. Quando as ondas sonoras atingem a placa flexível, fazem com que a mesma vibre, alterando deste modo milimetricamente sua distância em relação à placa rígida (mais perto / mais distante): esta variação na distância entre as placas cria uma variação na voltagem, traduzindo-se no sinal elétrico que representa o som, também um sinal muito fraco que exige amplificação posterior.

O outro tipo, menos elaborado, é o chamado eletreto-condensador. Neste tipo as placas são permanentemente energizadas; porém o sinal elétrico gerado é muito mais fraco do que no tipo descrito acima, necessitando amplificação inicial já no próprio microfone: este pré-amplificador está embutido, miniaturizado, dentro de seu corpo. A quase totalidade dos microfones embutidos nas câmeras de vídeo é deste tipo (eletreto-condensador). São empregados microfones do tipo condensador nas câmeras pela melhor qualidade que o mesmo propicia em relação ao dinâmico e pela facilidade de obter alimentação elétrica (da própria câmera).

Forma

Quanto à forma, podemos classificar os microfones encontrados em videoprodução nos grupos: microfone de mão (o mais simples deles), microfone de lapela (que, como o próprio nome diz, costuma ser fixado à roupa da pessoa) e shotgun (no formato de um longo tubo). Existem no entanto diversos outros tipos de microfone, como o instrumental, fabricado com a finalidade específica de gravar instrumentos musicais. Ao contrário do microfone de mão, que necessita de proteção interna contra choques mecânicos e conta geralmente com uma esfera de arame trançado para manter seu elemento sensível interno a relativa distância da boca da pessoa (podendo-se acrescentar uma proteção adicional de espuma), o microfone instrumental não possui nada disso. Com aspecto visual mais light, assemelha-se a um cilindro comprido e fino. Existem ainda outros tipos, como o microfone de estúdio (utilizado em gravações de voz, reconhecido por apresentar-se suspenso por tirantes cruzados de borracha), o microfone parabólico (utilizado em esportes para registro de sons distantes, como em campos de futebol), o do tipo boundary (registra todos os sons acima de uma superfície, utilizado sobre uma mesa de reuniões por exemplo) etc...

A existência ou não de fio é somente uma característica adicional (com suas vantagens e desvantagens), às vezes até uma exigência, mas que pode ser encontrada em qualquer tipo de microfone. O "não ter fio" significa existir um transmissor em uma ponta e um receptor em outra - o tipo de microfone utilizado nesse esquema pode ser qualquer um: de mão, de lapela ou shotgun.

Transmissor / receptor no sem fio

O transmissor é colocado próximo à cena ou fixado / instalado às vestes da pessoa que fala enquanto que o receptor geralmente (mas nem sempre) fica fixado à própria câmera. Nos microfones de mão sem fio, transmissor e bateria fazem parte do próprio corpo do microfone e por este motivo o microfone é um pouco maior em comprimento do que os tradicionais, além de possuir uma pequena antena em sua base. São muito utilizados em programas de TV - uma faixa colorida envolve seu corpo, logo abaixo ou acima do local onde é segurado. Essa faixa, com diferentes cores, serve para o operador da mesa de áudio identificar através do monitor qual microfone está sendo utilizado e assim conseguir controlar seu volume.

Microfones de lapela utilizados no esquema "sem fio" são geralmente do tipo condensador, uma vez que existe a facilidade de captação de energia do próprio transmissor.

Os receptores fixados à câmera são alimentados por uma bateria independente (geralmente de 9V). O som captado é direcionado através de um cabo à entrada de som externo da câmera.

A maioria dos transmissores utilizados no segmento semi-profissional trabalha na frequência VHF (Very High Frequency), com frequências variando em torno de 170 - 220 Mhz. Embora de qualidade aceitável, os sistemas que trabalham em VHF estão sujeitos a interferências e interrupções ocasionais na transmissão. Estes problemas são bastante reduzidos em sistemas que trabalham na frequência UHF (Ultra High Frequency). Com preço superior aos do tipo VHF, são geralmente utilizados no segmento profissional, com frequências variando em torno de 470 - 600 Mhz.

Para melhorar a captação do sinal transmitido tornando-o mais imune à interferências, alguns tipos de receptores utilizam dois circuitos independentes de recepção, resultando em duas antenas ligeiramente separadas, lado a lado. Um microprocessador faz a todo momento o teste de sinal entre um e outro receptor, escolhendo automaticamente o que possuir sinal de melhor qualidade. Como as ondas de rádio são facilmente refletidas por paredes, colunas e outros obstáculos densos, muitas vezes a pequena mudança de posição entre uma antena e outra faz a diferença.

Existem modelos de receptores mais baratos, que também utilizam duas antenas mas não possuem o microprocessador. A qualidade do sinal gerado neste caso não é tão boa. Os melhores, que utilizam o primeiro sistema são conhecidos como true diversity.

Todo esse problema pode ser grandemente minimizado se a gravação é feita ao ar livre - em uma praia ou campo aberto por exemplo, devido à ausência dos obstáculos na transmissão.

Padrão de captura

O padrão de captura de áudio dos microfones pode variar bastante. Alguns tipos de microfone captam todos os sons ao seu redor, não importando de onde venham, de trás, da frente, de um lado ou de outro. Sons provenientes de todas as direções são registrados e seu tipo é indicado pelo nome omnidirecional, onde "omni" significa todas - todas as direções. A sua área de sensibilidade assemelha-se a de uma esfera. Se não há necessidade de se isolar sons indesejados provenientes de determinadas direções, este tipo de microfone poderá ser o escolhido. Por não possuir mecanismos de seletividade direcional de sons em sua construção, possui baixo custo quando comparado aos demais.

Os tipos restantes são conhecidos como direcionais, como o cardióico por exemplo. Sua área de sensibilidade, situada à sua frente, possui o formato de um coração - daí seu nome. Como ele rejeita sons provenientes da região traseira, concentrando sua sensibilidade em uma única direção principal à sua frente, também é conhecido por unidirecional. Com área de sensibilidade ainda menor, temos, na ordem, o microfone supercardióico e o microfone hipercardióico.

Finalmente, o shotgun: com o mesmo nome da classificação de seu formato, sua área de sensibilidade, frontal ao mesmo, é mais restrita ainda do que a do hipercardióico. No formato de um longo tubo, possui comprimento proporcional à redução da área frontal de sensibilidade, ou seja, quanto mais longo o tubo mais direcional será o microfone, rejeitando sons provenientes de áreas situadas fora da área para onde o tubo é apontado. Apesar de muito restrita, esta área de sensibilidade sempre será bem maior do que o diâmetro do próprio tubo, e nunca tão fechada como se o próprio tubo se prolongasse até a cena gravada. Possui alta direcionabilidade, o que não é o mesmo que alta sensibilidade: sua sensibilidade é a de um microfone normal, apenas a área da mesma é que é extremamente reduzida.

Da próxima vez em que pensar em microfones, esses conhecimentos podem ser muito úteis na sua escolha e na obtenção de melhor qualidade no registro do áudio em videoprodução.