A luz é uma onda eletromagnética, diriam os físicos. Ondas eletromagnéticas são ondas na maioria das vezes invisíveis, mas que guardam muitas semelhanças com as ondas do mar. Se você pensar nas ondas dirigindo-se para a praia, terá uma idéia bem aproximada do que são as ondas eletromagnéticas. Repare que o desenho de uma onda é sempre repetitivo, uma parte semelhante a um monte seguida de outra semelhante a um vale. Se você medir a distância do início do "monte" até o final do "vale", estará medindo o comprimento da onda. Existem ondas dos mais diferentes comprimentos: as maiores, de eletricidade e telefone, chegam a medir quilômetros de extensão entre o início de um "monte" e o final do "vale" subsequente. As chamadas ondas curtas, de rádio, medem de 10 a 100 metros de comprimento. Com tamanho menor, as da TV em VHF medem de 1 a 10 metros de comprimento. A seguir, diminuindo cada vez mais de tamanho, vem as ondas de UHF, depois as infravermelhas e... finalmente, as ondas que conseguimos enxergar. É a chamada faixa visível de comprimentos de onda. Diminuindo ainda mais o comprimento, as ondas passam novamente a ficarem invisíveis. São as ondas ultra-violeta, as ondas do Raios-X e as da radiação cósmica.

Essa faixa visível de ondas eletromagnéticas possui ondas medindo desde 400 até 700 nanômetros. São ondas muito pequenininhas, minúsculas (um nanômetro é o tamanho de um milímetro dividido por um milhão!) mas são essas as ondas eletromagnéticas que enxergamos. E essas pequenas ondas tem uma propriedade interessante: sua cor varia com o comprimento de onda. Comprimentos de onda pequenos (em torno de 400 a 450 nanômetros) são azulados, os intermediários (500 nanômetros) esverdeados e maiores (700 nanômetros) avermelhados.

Bom, com isso podemos concluir que cada cor possui um comprimento de onda diferente... mas e a cor branca? Ela não é exatamente formada por um único tipo de onda, e sim por uma mistura de vários e vários tipos de ondas, das mais variadas cores: é isso o que forma a cor branca, já dizia Mr. Isaac Newton e seu disco de cores. Só que nem sempre essa mistura é perfeitamente homogênea, às vezes um ou outro tipo de onda predomina na mistura. A luz vermelha, por exemplo: aumentando-se pouco a pouco sua intensidade na "mistura", esta passará do branco para uma tonalidade levemente avermelhada, que irá aumentando à medida que mais ondas deste tipo forem sendo acrescentadas. Quando restar só um tipo de onda na mistura (a da cor vermelha) tem-se a cor pura dessa tonalidade.

No nosso dia ao dia, dificilmente algo é iluminado ao nosso redor com luz exatamente branca. A luz proveniente do Sol é uma luz branca equilibrada, mas, assim que entra na atmosfera terrestre, as coisas começam a mudar. A luz solar, devido à atmosfera, adquire uma tonalidade levemente azulada. No entanto esta tonalidade também pode mudar, dependendo da presença de partículas no ar, como poeira, fuligem e poluição. Em algumas situações, essa poeira é decorrente da própria natureza (o vento agindo sobre a terra seca por exemplo), em outras da atividade humana (a fumaça das indústrias por exemplo). Isso é a causa do tom avermelhado que às vezes acontece com a luz durante o pôr-do-Sol. A variação do ângulo de incidência da luz solar também acarreta mudanças: o fato da luz ter que atravessar mais partículas na atmosfera no início e no fim do dia do que ao meio dia (o chamado "Sol a pino") faz com que os comprimentos de onda mais curtos (azulados) sejam filtrados e a luz torne-se levemente amarelada. Ao contrário, perto do meio dia a luz está mais próxima do que é quando chega ao nosso planeta após ter atravessado a atmosfera, ou seja, levemente azulada.

No entanto, quando você segura um papel debaixo do Sol da manhã ou sob o Sol do meio dia, as partes brancas do papel parecerão sempre brancas. Como isso acontece, se em uma situação o papel está sendo iluminado por uma luz amarelada e em outra, por uma luz azulada? Isso acontece porque nosso cérebro aprende, através de seu julgamento, que aquela parte da folha é branca e corrige o excesso de amarelo, de azul ou de qualquer outra cor que estiver iluminando a revista. Mas as câmeras fotográficas, cinematográficas e de vídeo não possuem esse julgamento: elas vêem os objetos como eles realmente são. Assim, se compararmos as imagens feitas com uma determinada câmera, da mesma página da revista, ao amanhecer e ao meio-dia ensolarado, os '"brancos" serão diferentes, um será amarelado e outro azulado.

É por isso que as câmeras, para ver o mesmo branco que nossos olhos vêem, dispõem de formas de realizar compensações nos diferentes comprimentos de onda da luz. Em outras palavras, elas podem corrigir automaticamente, em nosso exemplo, o excesso de amarelo ou de azul, para que o branco seja visto como ele realmente é. É o chamado white balance (balanço do branco), que pode ser automático, utilizar presets ou ser feito de maneira totalmente manual. No modo automático, um processador analisa a imagem como um todo, tentando determinar se há predominância de alguma cor nas tonalidades que julga serem brancas. Se houver, efetua a correção (aumenta a participação de azul se na "mistura" predomina o vermelho por exemplo). É um processo automático e seu julgamento nem sempre é totalmente preciso. Assim, existe a possibilidade de se fazer isso de forma manual, apontando a câmera para algo que seja branco e informando-a de que a cor daquele objeto é o que ela deve entender como branco, processo conhecido como "bater o branco". Se ela estiver "vendo" por exemplo predomínio de vermelho no objeto, fará a correção adequada. E uma forma intermediária é utilizar presets de fábrica, botões que fazem ajustes já pré-determinados.

A coisa se complica no entanto quando iluminamos uma determinada cena com luzes de tonalidades diferentes. A luz incandescente tende para o amarelo-avermelhado, a luz do meio do dia, para o azul. Uma cena gravada em uma sala com uma grande janela de vidro e o uso de refletores, exige que se iguale a tonalidade das fontes de luz, o que é feito através do uso de gelatinas coloridas próprias. Gelatinas avermelhadas, afixadas no vidro, igualam a tonalidade da luz do Sol com a dos refletores, ou então gelatinas azuladas, colocadas em frente aos refletores, igualam a tonalidade de suas luzes com a do Sol. Existem várias graduações de intensidades e colorações para essas gelatinas. E é neste ponto, na análise das especificações dos diversos materiais, gelatinas e tipos de lâmpadas para os refletores, que você vai encontrar coisas do tipo 3.200 K, 6.000 K, etc... De onde vem esses estranhos números??

É aqui que entra em cena Mr. Kelvin, na verdade Lord Kelvin, um físico escocês que viveu no século 19 e criou o método para medir os desvios de proporção na composição da luz branca. Por este método, imaginava-se um hipotético objeto totalmente negro (chamado por ele de 'corpo negro' , porque absorveria 100% de qualquer luz que incidisse sobre ele) que, ao ser aquecido, passaria a emitir luz. E, além disso, a luz emitida iria mudando gradualmente de cor. A analogia era feita era com um pedaço de ferro, aquecido cada vez mais: o chamado 'ferro em brasa', inicialmente de cor vermelha, passava por várias tonalidades (amarelo, verde, azul) conforme a temperatura subia mais e mais.

Lord Kelvin criou uma escala de temperaturas e nesta escala determinou que em 1.200 graus o corpo negro adquiriria a tonalidade vermelha. Fez então outras marcações associando temperaturas e cores, criando o que hoje se conhece como a escala Kelvin. E surpreendentemente, muitos anos mais tarde cientistas comprovaram que as associações de temperatura e cor feitas por Kelvin estavam corretas.

Observe a ilustração abaixo: ela mostra diversas temperaturas associadas à diversas tonalidades de cor: são as temperaturas da escala Kelvin.

E agora observe a ilustração seguinte, que relaciona diversas fontes de luz e suas temperaturas, começando pela luz do fogo, cuja temperatura é de 1.200 K (graus Kelvin). As temperaturas vão subindo à medida que sobe-se na escala, de baixo para cima: uma lâmpada doméstica, incandescente, de 40W, emite luz com a temperatura de 2.680 K. Já a iluminação tradicional utilizada em vídeo, para interiores, é de 3.200 K. A seguir encontram-se outros tipos de lâmpadas e luzes (como a da Lua) até chegar-se às temperaturas de 5.600 / 6.000 K, correspondentes à luz do Sol na maior parte do dia (exceto nascer e pôr-do-Sol). E acima disto, outras temperaturas ainda maiores:

Ou seja, quanto maior a temperatura, mais "quente" a luz, correto? Errado. O conceito tradicional em fotografia (e adotado posteriormente também para o cinema e vídeo) diz que cores ditas "quentes" são as avermelhadas, em analogia com o fogo. E que cores "frias" são as azuladas, em analogia oposta. Só que na nossa escala, quanto maior a temperatura, mais tendendo para o azul é a cor, ou seja, mais "fria" ela é. Conclusão: quanto mais quente, menor é a temperatura da cor e vice-versa. E agora que você já conhece o trabalho do Mr Kelvin com as cores, bons ajustes e gravações!