Para muitos de nós, produtores ou expectadores no mundo da TV de hoje, alguns fatos históricos e relatos da época em que essa mesma TV surgiu podem parecer muito curiosos, levando-nos a pensar como muitas coisas eram tão diferentes na realidade daquela época.

Poderíamos mencionar alguns fatos técnicos, como a inexistência das lentes zoom nas câmeras de televisão da época por exemplo. Tanto em fotografia quanto em cinema desde a muito sabia-se das diferentes estéticas produzidas pelas diferentes distâncias focais empregadas nas lentes. Assim, lentes com distância focal pequena produziam imagens abrangendo uma grande quantidade de objetos e pessoas situados à frente da câmera, em uma visão aberta e abrangente. Por outro lado, lentes com distância focal pequena produziam imagens com um campo de visão bem mais fechado. A diferença estava, entre outras características, na aproximação da imagem pelas segundas (teleobjetivas) e no seu afastamento pelas primeiras (grande-angulares). Existiam ainda lentes especializadas na focalização de objetos muito próximos - as macro.

Em um programa de TV, transmitido ao vivo, não era viável tornar uma câmera indisponível durante algum tempo para que fosse efetuada a troca de sua objetiva por uma de distância focal mais adequada - a que produziria o enquadramento exigido no momento. Assim, algumas delas carregavam à sua frente todas elas, dispostas em um disco giratório motorizado acionado pelo operador da câmera que assim escolhia a objetiva conforme pedia o momento.

Mas ao se falar do registro das imagens produzidas por essas mesmas câmeras, o que chama ainda mais a atenção é exatamente isso: não havia registro algum. A TV era exclusivamente ao vivo. Durante anos foi assim, tanto é que os únicos registros, na maioria apenas trechos, desses programas, existem hoje na forma de filmes, muitas vezes feitos por alguém da platéia ou da produção.

A grande revolução foi trazida pelos primeiros equipamentos de videotape, permitindo a geração e posterior reprodução desses programas, em datas posteriores. Os erros de gravação podiam agora ser corrigidos sem que o público percebesse. Programas podiam ser montados aos poucos, tendo partes gravadas em diferentes dias, conforme a melhor agenda de produção. E o registro permanente desses programas passava a ser realidade.

Como o próprio nome diz, o videotape trazia a fita magnética, já usada no registro de áudio, também agora para o registro das imagens de vídeo. Eram máquinas nada portáteis, parecendo-se mais em tamanho com um armário de escritório do que com os decks de fita que temos atualmente. Assim como os armários, eram máquinas fixas, trabalhando com fitas em carretéis de 2 polegadas de largura - mais de 5 centímetros de largura, em um sistema que ficou conhecido como sistema de "2 polegadas".

Quando uma empresa chamada Ampex criou esse sistema, no final da década de 50, ninguém pensava ainda em cassetes de fita e no grande sucesso que fariam décadas à frente. O que de fato ocorreu na década seguinte foi o "encolhimento" na largura desse sistema de registro de imagens, quando a fita "perdeu" uma polegada, nascendo o moderno sistema de registro de imagens comercializado pela mesma Ampex, agora em carretéis de 1 polegada - mesmo nome do novo sistema.

A década seguinte veria a fita de vídeo "encolher" novamente, quando a Sony tornou-se líder no mercado com uma fita de apenas 3/4 de polegada, cerca de 20mm de largura. Tratava-se do sistema U-Matic, o primeiro no qual a fita deixava os rolos para acomodar-se dentro de um estojo de plástico, o recém-nascido cassete. A fita só permanecia armazenada ali dentro, porque no momento de ser lida ou gravada pelas cabeças era necessário que saísse do interior do cartucho, pelo menos o trecho que estava sendo reproduzido ou gravado no momento. Esse mecanismo empregava então um engenhoso conjunto de roletes e pinças que puxavam um pedaço da fita para fora do cartucho, enrolando-o sobre o cilindro das cabeças de leitura e gravação e o mantinham suficientemente tencionado e deslocando-se na velocidade correta.

Aliás, com variações e diversas melhorias, esse ainda é até hoje o processo empregado em todas as câmeras e decks de gravação de vídeo, responsável pelo tempo que temos que esperar para que a fita esteja pronta para ser lida ou gravada e também pelo tempo que temos que esperar quando invariavelmente estamos com pressa e a câmera ou deck leva "horas" para ejetar a fita...

Dessa época em diante o processo de redução no tamanho das fitas continuaria a ocorrer. E a gravação em vídeo seguiria os mesmos passos do registro de imagens em cinema. O cinema, antes restrito aos grandes estúdio, havia criado bitolas mais estreitas como a de 16mm e posteriormente a de 8mm, o que propiciou a fabricação de câmeras mais leves, menores e principalmente mais baratas. Surgia o cinema underground, impulsionado sobretudo pelos equipamentos mais baratos: Kodak e Fuji faziam-se presentes em formatos como o Super-8 e o Single-8 e essas câmeras passaram a ocupar as mesmas prateleiras nas lojas antes reservadas aos liquidificadores, entrando nas opções de lazer de muitas famílias.

Mas, apesar de tudo, registrar as imagens das férias em filme era caro, e o vídeo surgia aos poucos como oportunidade promissora. A mesma Sony do U-Matic iria criar nessa época o primeiro formato de vídeo voltado para o público consumidor: o Betamax, com a fita também em um cassete só que ainda mais estreita, 1/2 polegada (cerca de 13mm).

Mas a grande virada surgiria logo depois, quando a JVC colocaria no mercado um formato também de 1/2 polegada de largura e também disposto dentro de um cassete, porém rodando com menor velocidade, o que se traduzia em menor qualidade de imagem do que já existente Betamax da Sony. Mas aí também estava o pulo do gato: ao trocar um pouco menos de qualidade por mais tempo de gravação, permitiu o registro em vídeo com cerca de 2 horas de gravação, em um único cassete. Não por acaso, o mesmo tempo de duração da imensa maioria dos filmes existentes até então. Ninguém poderia pensar em alugar os diversos rolos de película 35mm que se projetavam nos cinemas para ver em casa, mas agora, com a opção do novo formato, denominado VHS, isso tornava-se não só possível, como bastante atraente. Nascia assim o mercado das videolocadoras.

Do lado profissional a redução no tamanho das fitas também ocorreu, quando no início da década de 80 a Sony colocava no mercado o sistema Betacam, em um cassete semelhante ao do Betamax mas com sinal muito melhor. Esse formato propiciou o casamento de dois personagens até então separados: a câmera e o gravador, nascendo a camcorder, mistura de câmera e recorder em um único aparelho. Com ela as reportagens de rua, até então efetuadas com uma câmera com gravador a tiracolo ganharam mais flexibilidade e mobilidade.

Nessa cronologia da fita de vídeo o que veria-se a seguir manteve-se sempre na aplicação de dois princípios, o da redução do tamanho físico do cassete e o do aumento da qualidade da imagem. Surgiram assim formatos como o VHS-C (quem lembra-se da sensação causada ao usar pela primeira vez os adaptadores, um aparelho - hoje no museu - do tamanho de uma fita VHS que "engolia" dentro dele uma fita VHS-C para que fosse possível sua leitura e gravação em um videocassete VHS comum?).

Novos formatos foram sucedendo-se, tanto no segmento doméstico quanto no profissional: Betacam SP, S-VHS, Hi-8, S-VHS-C ...

Foi então que, a partir da década de 80, um novo casamento viria a ocorrer: o da fita cassete com o computador. Mais apropriadamente, o mundo digital chegava no registro das imagens de vídeo. O sinal captado pelos sensores das câmeras, que já empregavam os CCDs no lugar dos antigos tubos de imagem continuava sendo analógico, como continuam sendo até hoje nas mais sofisticadas câmeras de cinema digital. No entanto, a diferença era a codificação e transformação desse sinal no interior da câmera antes que o mesmo fosse gravado na fita.

Após experiências com decks de gravação destinados ao uso em estúdios, a gravação digital foi na década de 90 para as câmeras profissionais com o até hoje empregado Digital Betacam da Sony (conhecido no mercado como "Digibeta"). No segmento consumidor, surgia nessa mesma época o padrão DV, na verdade uma família de formatos que foram surgindo aos poucos, todos dentro do mesmo padrão de qualidade de imagem, descontadas as diferenças entre os equipamentos utilizados em sua captação: Mini-DV, DVCAM, DVCPRO e Digital-8, muitos deles com variações no tamanho e capacidade das fitas, como as Standard DV e as Mini-DVs.

A alta definição chegaria a seguir, trazendo nomes como HDV, HDCAM e outros e com ela, um novo casamento em videoprodução, desta vez destinado a romper o antigo casamento: o conteúdo digital passou a flertar com algo mais moderno do que as antigas fitas magnéticas: as memórias sólidas. As vantagens eram muitas: uma mídia que não sofria com campos magnéticos indesejados, permitia o acesso quase instantâneo a qualquer ponto do conteúdo gravado, permitia o início instantâneo da gravação, era menor, mais leve, resistente a quedas, ao calor, à poeira, não necessitava rebobinagens periódicas, não perdia pedaços pelos caminhos dentro da câmera, não sofria com condensação de umidade, não amassava quando as coisas não iam bem no equipamento, além de ser barata. Bom... em relação a esse último quesito, seria o sonho completo poder-se dispor de uma mídia com todas essas características - inclusive esta. Na verdade, o que vem ocorrendo é a diminuição gradual de seu preço, acompanhada do aumento de capacidade.

A previsão dos especialistas é que esse será o meio de armazenamento que irá substituir definitivamente as fitas magnéticas na captação de imagens de vídeo, processo este que já vem ocorrendo no mercado. Não serão as outras mídias, como os discos ópticos, a desempenharem esse papel. Por outro lado, a fita magnética persiste, ainda, em processos de armazenamento de longa duração, papel no qual permanece imbatível, como no sistema LTO.