Talvez não possa ser catalogado como um ditado... certamente não é um ditado popular, mas o fato é que existe uma frase que diz que uma imagem só existe se houver algum contraste. Trocando em miúdos, como se diz popularmente, isso significa que um quadro completamente negro ou então um outro completamente branco não trazem informação alguma, pelo menos, no que se refere à realidade fotografada - à exceção da foto de uma folha de papel branca ou do céu completamente escuro à noite...

Portanto alguém que se dispusesse a retratar uma paisagem precisaria pelo menos de um papel e de um lápis, mas, os dois de cores diferentes: um lápis branco evidentemente não conseguiria registrar essa imagem sobre um papel branco. Tem-se então o referido contraste: uma imagem será, abstraído o aspecto "cor", uma coleção de pontos claros e escuros. Refinando o raciocínio, não somente em uma tonalidade de claro e outra de escuro e sim em um conjunto de tonalidades mais claras ou mais escuras, na verdade o que se denomina escala de cinza, que vai do preto absoluto ao branco absoluto com várias tonalidades intermediárias. Diz-se que o olho humano consegue distinguir, em média, não mais do que 100 dessas diferentes divisões.

Assim, registrar uma imagem em algum dispositivo é olhar essa imagem na vida real e ali no dispositivo, copiá-la ponto a ponto, com a mesma intensidade luminosa. Estamos fazendo com isso uma analogia com a realidade, daí o termo "analógico". Todo registro de imagem começa dessa forma, ou seja, com essa cópia das intensidades ponto a ponto da cena captada da vida real, um processo analógico empregado em todas as câmeras fotográficas, de vídeo e de cinema, sejam elas digitais ou não. Trata-se pois de um processo que emprega, nesse dispositivo de registro da imagem, técnicas capazes de mostrar pontos escuros, claros e em tons intermediários.

O princípio da fotografia, trazer para uma superfície qualquer um "pedaço" da realidade, já era conhecido dos antigos pintores: na câmara escura era possível ver ali projetada na parede, de ponta cabeça, a imagem do que havia do lado de fora. Isso, de certa forma, servia para registrar traços e esboços de perspectivas e contornos da natureza com grande precisão. Mais tarde a técnica foi aprimorada com o emprego de uma lente, substituindo o minúsculo orifício por onde entrava a luz. Havia então mais claridade e mais nitidez na imagem, mas ainda era, tão somente, uma luz projetada na parede: aberta a porta da câmera escura perdia-se a imagem antes ali existente...

Como então registrar, de forma definitiva, essa imagem projetada pela lente? A imagem, como vimos, é composta por pontos claros e escuros e ainda de meios tons. O que poderia tornar-se mais claro ou mais escuro de acordo com o trecho mais claro ou mais escuro da imagem? Esse algo, que reagia dessa forma à presença de mais ou de menos luz, era um composto químico especial formado por sais de prata, estudado, pesquisado e aprimorado ao longo de várias décadas. Bastava expor esse composto (daí a palavra "exposição") à luz projetada pela lente, ou seja, se em determinado ponto essa luz era mais intensa (ex. um pedaço de céu) o composto químico recebendo mais luminosidade iria transformar-se ("queimar-se", escurecer-se, daí o termo "queimar o filme"...) mais rapidamente do que em outro ponto de luz menos intensa (ex. sombra de uma árvore).

Havia, no entanto, um problema: tudo se passava como em uma corrida na Olimpíada, como os 200 metros rasos. No início, todos os corredores estão alinhados; durante a corrida, alguns vão mais rápido, outros menos e, ao final dela, todos atingiram a linha de chegada. Cada corredor representa um ponto da imagem a ser registrada: quanto mais ele corre, mais "claro" vai ficando, até ficar totalmente branco na linha de chegada, na nossa comparação. Onde há mais luz, o corredor é mais veloz, onde há menos luz o corredor é mais lento. Então se congelarmos um fragrante da corrida em sua fase intermediária, veremos alguns corredores mais à frente do que outros. Isso é a imagem: alguns pontos mais claros do que outros, formando o referido contraste. Porém, se deixarmos todos correrem até o final, não haverá mais imagem, porque todos os pontos terão a mesma tonalidade, na comparação, todos ficarão claros.

Então o que tem que ser feito para se obter alguma imagem é "congelar", interromper essa corrida em algum ponto intermediário entre a largada e a chegada. Na fotografia e no cinema isso significa não deixar os sais de prata excessivamente expostos à luz, pois então todos eles atingirão a "chegada", ou seja, todos ficarão com a mesma tonalidade. Este é o papel do obturador, uma peça metálica colocada entre a objetiva e o filme destinada justamente a isso: interromper o "banho" de luz que o filme recebe - e com isso formar a imagem.

Se formos pensar em processos eletrônicos de registro de imagens, pensaremos no funcionamento dos sensores CCDs (Charge Coupled Device) e CMOSs (Complementary Metal Oxide Semiconductor). Neles, o que ocorre é um processo não-digital e sim analógico , que tem tudo a ver com os sais de prata da emulsão fotográfica. Esses sensores possuem em sua superfície células fotoelétricas, que transformam luz em energia elétrica e, da mesma forma que nos sais de prata, a transformação é proporcional à intensidade da luz. Assim, projetando-se sobre um desses sensores a imagem de um céu claro e uma árvore à sombra, o ponto que recebe a imagem do céu recebe bastante luz e portanto gera muita energia elétrica, ao contrário do que acontece com o ponto mais escuro da sombra.

Aqui novamente entra em cena a nossa "corrida", só que ao invés de interromper a entrada da luz com um dispositivo metálico (câmeras digitais não tem obturador físico), procede-se à descarga e limpeza periódica das cargas geradas em cada ponto, acumuladas em dispositivos que armazenam-as para cada um dos pontos sensibilizados. O efeito, no entanto, é o mesmo, a maneira de formar a imagem é a mesma: muito tempo de exposição e não se tem imagem alguma, quase nenhum tempo e também não se tem imagem. A diferença é que exposição no filme é um processo químico que acontece somente enquanto a luz está sendo projetada no mesmo e exposição no sensor é o tempo entre uma leitura e outra, com a luz sendo projetada ali o tempo todo - por isso nesse caso não há necessidade da barreira física - o obturador.

De tudo isso conclui-se que existe um tempo certo para o filme ficar exposto à luz, assim como existe um tempo certo entre uma leitura e outra do sensor para que uma imagem seja formada com o aspecto desejado. Isso significa, excetuando-se as imagens propositadamente muito claras ou muito escuras (fato denominado super e sub-exposição), que deve haver uma distribuição harmônica entre os pontos claros e escuros da imagem. Esses pontos, que no filme são os sais de prata, no sensor são os denominados pixels. Um recurso interessante para fazer essa análise de distribuição de intensidade dos pixels é um mapa chamado histograma, presente em algumas câmeras de vídeo e fotográficas digitais. Com ele é possível verificar se a imagem possui áreas excessivamente claras, nos domínios da super-exposição.

Esses extremos - sub e super exposição - constituem-se um problema na fotografia, pois perdem-se os detalhes da imagem nessas áreas. A menos, como foi dito, que haja um desejo proposital de criar imagens assim, trata-se de um defeito a ser corrigido. Para tanto, os equipamentos de vídeo trazem hoje em dia diversos recursos para auxiliar na tarefa.

Um dos mais antigos é o chamado padrão zebra, que desenha linhas paralelas inclinadas (padrão hachuriado) sobre a imagem no visor da câmera. Essas linhas não são gravadas e são desenhadas somente nas áreas que apresentam super-exposição, permitindo ao operador da câmera fazer a correção para eliminar ou atenuar o problema. Em algumas câmeras é possível ajustar o ponto a partir do qual essa indicação tem início. Mas.. como corrigir?

Se temos excesso de luz, o que é preciso fazer é diminuir esse excesso, o que pode ser conseguido de diversas formas, entre elas, diminuindo a abertura da íris, diminuindo o tempo entre uma leitura e outra do sensor (o que se traduz, na câmera, por diminuir a velocidade do obturador, que como visto, é virtual e não físico nas câmeras digitais), acrescentando um filtro neutro na objetiva, acionando esse tipo de filtro já existente no interior de algumas câmeras, acrescentando um filtro neutro (gelatina) sobre uma ou mais fontes de iluminação da cena, reduzindo essa iluminação cortando-a completamente, ou acrescentando telas difusoras, etc...

Outros recursos para obter-se uma exposição mais adequada, presentes em câmeras mais sofisticadas, são o spot meter embutido e o waveform (monitor de forma de onda). O spot meter indica em uma escala de intensidade de sinal de luminosidade denominada I.R.E. o quanto determinada parte da área enquadrada no LCD ou viewfinder está super-exposta ou prestes a atingir esse ponto (são as regiões de altas luzes). O valor máximo do branco é 100 I.R.E. e com essa ferramenta o operador da câmera, apontando-a para pontos mais claros e mais escuros da cena pode fazer um ajuste mais preciso da imagem final ao escolher o ponto de equilíbrio desejado. O waveform mostra em um gráfico o sinal de vídeo gerado pelo sensor, também em uma escala do tipo I.R.E. e permite da mesma forma fazer o ajuste mais adequado.

Trabalhos mais elaborados contam com o auxílio do fotômetro de luz incidente e refletida, usado pelo diretor de fotografia da mesma forma que em trabalhos de foto e filmes para determinar a sensibilidade da câmera e estabelecer os pontos de abertura desejados para cada cena.

É por esse motivo que é possível afirmar que o ajuste correto da exposição é uma das mais importantes tarefas na obtenção de boas imagens em vídeo ainda na fase de captura, pois, em mais casos do que se imagina, corrigir problemas na fase posterior, de pós-produção, nem sempre propicia os mesmos ganhos em qualidade.