Para entendermos o que significa "balancear o branco" vamos entender antes o que é luz. A luz pode ser conceituada como sendo uma onda eletromagnética. Aliás, melhor dizendo, como um dos diversos tipos de ondas eletromagnéticas existentes. E o que é uma onda? Temos o conceito claro de onda ao imaginarmos o que acontece quando deixamos cair uma pedra na superfície calma de um lago. A partir do ponto onde a pedra atingiu a água, vemos ondas em forma de círculos concêntricos afastando-se cada vez mais. Vemos também que essas ondas vão perdendo sua intensidade à medida que se afastam de seu ponto de origem. Essas ondas são chamadas "mecânicas", porque são a propagação da energia mecânica (impacto da pedra) através da água.

Um outro exemplo de energia mecânica se propagando é o som, como no exemplo do alto-falante, onde o ar é empurrado e puxado para trás centenas de vezes por segundo por uma membrana que vibra conforme os acordes da música ou conforme a voz de uma pessoa que fala. Ao contrário das ondas no lago, estas são invisíveis, mas podemos sentí-las quando atingem nossos ouvidos. E a onda eletromagnética é também semelhante a estas ondas, com algumas particulariedades que a diferenciam: pode ou não ser visível (em alguns casos é e em outros não é) e é formada por energia eletromagnética que se propaga, ao invés de energia mecânica.

A questão de poder ou não ser visível está relacionada a uma característica que todas as ondas possuem chamada comprimento de onda. Trata-se da distância entre o início de um "vale" e o final de um "pico" do desenho das curvas da onda. Podemos classificar as ondas do lago por seu comprimento: ondas mais curtas, mais longas, médias... mas todas serão sempre parecidas, com as mesmas propriedades, ou seja, um "volume de água" caminhando sobre a superfície do lago. Mas as ondas eletromagnéticas apresentam propriedades que mudam muito conforme muda o seu comprimento de onda.

Assim, observando-se ondas eletromagnéticas com comprimento de onda cada vez menor, vamos encontrar por exemplo ondas de rádio AM com 100 metros de comprimento, ondas de transmissão de TV em VHF com 5 metros de comprimento e ondas utilizadas em celulares com menos de 1 metro de comprimento. As ondas infravermelhas, emitidas pelo controle remoto do DVD player por exemplo, tem comprimento menor do que 1mm. Para ser mais exato, seu comprimento de onda situa-se em uma faixa de 750nm a 1mm de comprimento. Esta medida, "nm", é chamada "nanômetro", correspondendo a 1 milímetro dividido por um milhão: sim, estas ondas podem ter comprimentos extremamente pequenos.

É então quando surge nas ondas eletromagnéticas a faixa de 400nm a 700nm de comprimento de onda, que uma propriedade interessante passa a se manifestar: estas ondas tornam-se visíveis ao olho humano. São o que chamamos faixa visível do espectro eletromagnético, entendendo "espectro" como o conjunto de todos os comprimentos de onda possíveis para essas ondas. Diminuindo-se ainda mais o comprimento de onda, a propriedade de visibilidade desaparece: temos então as ondas ultravioletas que queimam nossa pele sob o Sol, com comprimento de 10 a 400 nm, as do raios-X do hospital (1 a 10nm) e as que são enfrentadas pelas espaçonaves, menores do que 1nm (radiação cósmica).

Voltando à faixa visível do espectro, podemos verificar que ela apresenta ainda outra propriedade particular: além de serem visíveis, suas ondas possuem cores diferentes, variando conforme seu comprimento de onda. Assim, as ondas mais "compridas", com 700nm, são avermelhadas. Diminuindo-se gradativamente seu comprimento, passamos pelas alaranjadas (600nm), amarelas (580), verdes (500), ciano (450), azul-escuro (480) e violeta (400), conforme mostra a ilustração abaixo:

Muito bem, dirá você, vemos aí todas as principais cores, mas onde está a cor branca?

A resposta é: não há nenhum comprimento de onda correspondente à cor branca, porque ela, individualmente, não existe. O branco, como nós o enxergamos, corresponde à mistura de ondas de todos esses comprimentos, de maneira igualmente distribuída. Basta no entanto desequilibrar essa mistura uniforme, para que a luz resultante deixe de ser branca e adquira outra tonalidade. A luz que chega até a parte superior da atmosfera da Terra, proveniente do Sol, é uma luz equilibrada, contendo iguais porções de todos estes comprimentos de onda da faixa visível do espectro.

Porém ao atravessar a atmosfera terrestre, essas ondas encontram uma série de obstáculos, a começar pelos gases que a compõem: ondas de comprimentos menores atravessam com maior facilidade esses gases, ondas de comprimentos maiores com maior dificuldade. Com isso, há um desequilíbrio, favorecendo justamente as que irão conferir a tonalidade azulada ao céu e a tudo o que for iluminado pela luz proveniente do Sol. É por este motivo que imagens captadas pelas câmeras em exteriores possuem geralmente essa tonalidade.

Variar o que os raios de luz encontrarão pela frente significa variar a dificuldade de um ou outro tipo de comprimento de onda de atravessá-los, provocando diferentes desequilíbrios na "mistura". Poeiras, partículas diversas de fumaça e outros elementos misturados aos gases da atmosfera influem assim no tom da luz proveniente do Sol, especialmente se esta tem que atravessar uma quantidade muito maior desses elementos, situação que ocorre quando o Sol está nascendo ou se pondo - sua luz tende para o amarelo-avermelhado.

Luzes artificiais também não são uniformemente brancas: no espectro da luz incandescente, vemos uma maior predominância dos comprimentos de onda correspondentes ao vermelho. Luzes de vapor de sódio da iluminação pública possuem um espectro praticamente concentrado somente no amarelo. Luzes fluorescentes comuns possuem espectro distribuído em faixas desiguais, com predominância maior do trecho correspondente ao verde.

Se é assim, se a luz que ilumina tudo ao nosso redor não é uma luz equilibrada (com comprimentos de onda igualmente distribuídos), e nada é iluminado com luz exatamente branca, como enxergamos o branco do tapete da sala, da faixa de pedestres e do avental do médico? A resposta está em nosso cérebro. Ele sabe que essas coisas são brancas ao compará-las com as demais e efetua ajustes na sensação recebida dos comprimentos de onda que enxergamos, dando "descontos" para eventuais excessos e desequilíbrios de forma a percebermos e entendermos como branco o tapete da sala, seja de dia, iluminado pela luz que vem da janela, ou de noite, pela luz de um lustre acima do mesmo.

Mas as câmeras, sejam elas cinematográficas, fotográficas ou de vídeo, não possuem essa capacidade de correção, registrando as cores como elas de fato são. Como resultado, produzem imagens que para nós fogem do tom normal como enxergamos as coisas. Assim, torna-se necessário efetuar correções de cor. Quem trabalha com fotografia ou cinema em película, usa filmes pré-ajustados para determinadas situações, como por exemplo "daylight", ou então coloca filtros coloridos especiais sobre a objetiva. Já em cinema, vídeo e fotografia digitais, o ajuste é feito eletronicamente na câmera e chama-se white balance, ou balanço do branco.

Existem diferentes formas de ajustes eletrônicos para o white balance. Um desses modos é o automático: um processador efetua o tempo todo a análise das imagens registradas pela câmera, e através de algoritmos complexos verifica se há predominância exagerada de uma tonalidade ou de outra. Ao detectar algum desequilíbrio, tenta corrigí-lo, aumentando ou diminuindo a presença de cores complementares à cor em excesso.

Como o próprio nome diz, é um processo automático e seu julgamento nem sempre é totalmente preciso: o sistema não consegue fazer o ajuste necessário quando grandes áreas do quadro da imagem possuem a mesma cor - uma pessoa em pé diante da fachada azul de um prédio por exemplo, onde a fachada predomina na maior parte do quadro. Ou quando essa pessoa é iluminada por luzes de diferentes tipos ao mesmo tempo, como lâmpadas fluorescentes e incandescentes. No entanto, é útil quando é impraticável efetuar ajustes manuais com frequência.

Outro modo é o uso de presets de write balance: ajustes pré-determinados de fábrica, onde a  interpretação automática da câmera é desligada e a mesma passa a comportar-se de acordo com um padrão fixo. Um desses presets é o da "luz do Sol", indicado de diferentes formas nas câmeras: "exteriores" / "outdoor" / "sunlight" ou através de um símbolo representando o Sol). Outro preset muito utilizado é o da "luz incandescente", indicado como "interiores", "indoor", "tungsten" ou com o símbolo de uma lâmpada. E existe ainda o preset para luz fluorescente. Na maioria dessas situações padrão estes presets funcionam adequadamente, mas nem sempre isso ocorre. Um exemplo é quando um lustre utilizando luz incandescente tem a intensidade de sua lâmpada reduzida através de um dimmer.Sua tonalidade ficará com intensidade bem maior de vermelho/laranja do que aemitida por uma lâmpada incandescente comum, para a qual o preset foi definido.Outro exemplo é o do uma luminária fluorescente que utiliza uma grade deplástico difusora em sua parte inferior. Se essa grade estiver muito envelhecidae suja de pó, poderá conferir uma tonalidade um pouco mais amarelada à cororiginal das lâmpadas.

Mais preciso e acurado é o modo manual de ajuste do white balance, conhecido como batimento do branco. Após regular a câmera para fazer o ajuste, aponta-se a mesma para algo que seja branco (um cartão, uma parede, etc...) e pressiona-se um botão. Após alguns segundos, surge uma indicação no visor informando que o processo terminou. Com esse processo, estamos dizendo para a câmera que o objeto focalizado deve ser a sua referência para a cor branca - se ela estiver "vendo" por exemplo predomínio de vermelho no objeto, fará a correção adequada. O ajuste pode ser então armazenado na memória do equipamento.

Nem todas as câmeras possuem esses 3 ajustes, mas na maioria delas pelo menos o modo automático estará sempre presente. Porém, existe um outro lado: também a iluminação deve ser homogênea em termos de tonalidade de cor. O grande problema que surge é quando se tem fontes de luzes diferentes iluminando o mesmo objeto / pessoa. Um exemplo é o de uma cena diurna gravada em um escritório com uma grande janela de vidro, perto da qual situa-se uma mesa com um executivo falando para a câmera, iluminado com uma luz incandescente. A luz incandescente tende para o amarelo-avermelhado, a luz do dia (janela), para o azul: o balanceamento eletrônico, mesmo o manual, ficará prejudicado.

Nesse caso, diversas alternativas podem ser analisadas para se igualar a tonalidade das fontes de luz, desde as mais drásticas, como procurar outra locação, até outras, como fechar eventuais cortinas escondendo a janela e utilizar um ou mais refletores ou simplesmente apagar a luz incandescente. No entanto, na maioria das vezes o uso das duas fontes de luz é conveniente, para acrescentar volume e modelar melhor a cena, além do fato de que a cena com a janela descoberta ao fundo pode apresentar um atrativo interessante. Como resolver então o problema da diferença das luzes?

A solução é o uso de folhas plásticas especiais denominadas gelatinas, cujo nome provém, segundo alguns, dos tempos primitivos do teatro, quando eram realmente confeccionadas com o uso de gelatinas coloridas. Gelatinas avermelhadas, afixadas no vidro da sala do nosso exemplo, igualam a tonalidade da luz exterior com a da luz incandescente utilizada no interior. Gelatinas azuladas, colocadas sobre a luz incandescente, fazem com que a mesma fique com a tonalidade azulada da luz externa. A opção a ser escolhida - recobrir a janela ou o lustre - vai depender do custo x benefício, ou seja, da quantidade de material a ser empregada na tarefa. Vários vidros, área grande envidraçada, vários lustres, etc... interferem na decisão. E a criatividade também, como abaixar uma eventual persiana alguns centímetros para encobrir o restante da janela não atingida pelo tamanho padrão da folha de gelatina.

Existe outra abordagem para a questão, empregada diariamente pelas produtoras de programas de entrevistas: não existe o referido lustre, e sim um refletor utilizado pela equipe (ou mais de um), de luz incandescente, que emprega gelatinas para corrigir da mesma forma a sua cor. Existe uma quantidade enorme de tons de gelatinas, incluindo variações (graduações) de intensidade da mesma cor. Os tipos mais comuns (avermelhadas, para corrigir excesso de azul e azuladas para corrigir excesso de vermelho) recebem, respectivamente, os nomes CTO e CTB (Color Temperature Orange e Color Temperature Blue).

O que essas gelatinas fazem, como vimos, é uniformizar os comprimentos de onda de luz que iluminam a cena. Nossos olhos poderão estar vendo refletores com luzes azuis iluminando a cena, ou então o exterior visto através da janela colorido de laranja.... mas, com certeza, a câmera estará registrando a imagem corretamente. Corrigir a luz é assim, a garantia de obter imagens de melhor qualidade em qualquer situação.