No mês de março de 1941 o mundo lia e ouvia apreensivo as notícias sobre o desenrolar dos passos ocorridos nas frentes de batalha da Segunda Grande Guerra. As notícias davam conta da entrada da Bulgária no conflito, juntando-se à Alemanha, Itália e Japão. A armada britânica invadia a Etiópia, até então controlada pela Itália e o general alemão Rommel preparava um ataque através do deserto rumo ao Norte da África. Enquanto isso, do outro lado do Atlântico um passo importante era dado para expandir como nunca visto o acesso do público às imagens em movimento, até então restrito aos notíciários projetados nos cinemas antes do início das sessões.

Tratava-se da publicação pelo comitê técnico National Television System Committee das normas que regeriam o padrão do sinal de TV que ficou posteriormente conhecido como NTSC. Era a época das TVs de telas com cantos excessivamente arredondados para a estética atual, mas decorrente de uma necessidade de construção dos tubos de raios catódicos, os CRTs.

Ali, dentro desses tubos um canhão controlado eletronicamente projetava um raio de elétrons em direção a sua superfície frontal, percorrendo uma trajetória em forma de linhas, de alto a baixo e depois novamente e indefinidamente, fazendo assim com que as imagens em movimento fossem desenhadas nessa superfície, a tela do aparelho.

Nessa época a imagem era formada por alternâncias de luminosidade presentes nessas linhas, algo como se fatiássemos uma fotografia em tiras muito finas, na verdade de acordo com esse padrão, 525 fatias (embora uma pequena parte dessas fatias não contivesse imagens e sim sinais de controle, criando assim as conhecidas faixas pretas que rolavam verticalmente na tela quando havia algum desajuste no aparelho).

Ao espaçar por intervalos milimétricos cada uma dessas fatias, arranjadas umas acima das outras poderíamos ter uma idéia do que era a imagem naquele tempo. O que acontecia é quando essas linhas eram vistas a certa distância, pareciam juntas e assim compunham as imagens contínuas da TV.

Observando uma dessas linhas, veríamos que ela continha trechos mais claros e outros mais escuros, de acordo com a imagem que era ali montada. O tubo em questão era revestido internamente por uma camada de fósforo que tornava-se luminosa ao ser atingida pelos elétrons projetados pelo canhão. Como esse canhão estava em movimento (trajetória das linhas), esse estímulo elétrico durava frações de segundo, após o qual o trecho luminoso ia-se apagando, até que o canhão em sua trajetória o atingisse novamente.

Era esse apagar suave que dava a idéia de continuidade ao movimento das imagens, somado ao desenho alternado dessas linhas, primeiro as pares, depois as ímpares, depois novamente as pares e assim por diante, em um sistema que ficou conhecido como entrelaçado ou interlaced, utilizado até hoje nos mais modernos sistemas de TV, como no padrão de HDTV (TV de alta definição) denominado 1080i.

Nas regiões da imagem onde a luminosidade deveria ser maior, a intensidade dos raios projetados pelo canhão também era maior e vice-versa.

O que diferenciava uma imagem de outra em termos de qualidade, nesses sistemas, era a capacidade do aparelho de mostrar um nível bom de detalhamento de luminosidade, ou seja, até quantas variações de tons claros-escuros uma dada linha poderia representar. Esse conceito é conhecido como resolução horizontal e não aplicava-se somente a um televisor específico e sim ao sistema todo de captura e transmissão das imagens, começando pelas câmeras.

Para medir a resolução horizontal, ou seja, a capacidade de um determinado meio de registro de imagens, como as câmeras, de mostrar mais ou menos detalhes de variações de luminosidade, estes deveriam ser apontados para uma imagem composta de diversas linhas verticais, umas próximas das outras, para verificar-se se esse dispositivo conseguia registrar todas essas linhas.

Essa imagem, chamada chart de resolução, possuía trechos com as linhas mais afastadas e trechos com as linhas mais juntas, variando uniformemente de forma que se podia identificar até onde uma determinada câmera conseguia "ler" as individualidades de claro-escuro.

Algumas décadas mais tarde, quase cincoenta anos depois, no auge dos sistemas analógicos de vídeo como o profissional Betacam SP por exemplo, poderíamos ler que o recém criado sistema digital Mini-DV tinha potencial para registrar cerca de 700 linhas de resolução horizontal quando utilizado nas melhores câmeras desse formato (com 3 sensores e excelente qualidade óptica e eletrônica). Claro que em equipamentos voltados para um público menos exigente, como os usuários domésticos, esses valores caíam para algo em torno de 400 a 500 linhas, a grosso modo (existiam muitas variações e números parecidos com esses).

Esse potencial de resolução e qualidade de imagem, juntamente com a criação das TVs a cabo e sua demanda por conteúdo fizeram com que o formato Mini-DV, a princípio criado para o público não-profissional fosse por este também utilizado, principalmente porque eram equipamentos pequenos, bem mais leves do que as grandes câmeras Betacam da época e que assim podiam ser levados por exemplo em documentários de esportes radicais, convivendo com as imagens captadas com suas irmãs maiores. Este fato levaria mais tarde ao aparecimento das versões desse formato para esse tipo de público, o DVCAM e o DVCPRO.

No entanto o surgimento dos formatos digitais trouxe uma grande modificação no modo como as imagens eram construídas e mostradas na tela. Podemos dizer que as linhas transformaram-se em pixels. No caso do Mini-DV, o sinal de imagem registrava 720 pixels como resolução horizontal, para 480 pixels como resolução vertical. A mesma idéia da variação de luminosidade das linhas do CTR estava presente, mas agora distribuída em pontos isolados, os pixels. No sentido vertical houve redução, no caso do NTSC, de algumas linhas, justamente as que continham controles para os sistemas analógicos, agora não mais necessários e um ligeiro arredondamento, obtendo-se o valor 480x720.

Os pixels que compõem as imagens de vídeo, ao contrário do que se poderia pensar, não são pequenos pontos redondos. Tem a forma retangular, transitando entre a de um retângulo deitado, um quadrado ou um retângulo em pé. Essa variação depende do formato de vídeo, cada um adota pixels de um determinado tipo.

Os pixels do formato Mini-DV e por extensão os de todos os formatos da família DV (DVCAM, DVCPRO, o antigo Digital-8, etc...) tem proporção 0,9. Esse valor indica que, para uma dimensão vertical de 1 unidade de altura de cada pixel, a largura de cada um deles é de 0,9 unidades, ou seja, eles são mais estreitos do que largos, o referido "retângulo em pé" acima.

Esse número 0,9 é a representação de uma medida denominada pixel aspect ratio, ou taxa de proporção das dimensões do pixel. No sistema DV PAL os pixels também são retangulares com dimensões diferentes, no caso, mais largos do que altos: seu valor de pixel aspect ratio é de 1,0666 significando que para uma unidade de altura, o pixel possui 1,0666 unidades de largura.

Aparentemente isso causaria uma diferença no tamanho da imagem entre um sistema e outro, uma vez que um deles possui pixels mais largos do que os do outro. Isso - a diferença de tamanho no quadro da imagem - não poderia ocorrer, porque desde a época em que o comandante Rommel avançava pelo deserto essa proporção deveria ser 4:3, ou seja, quatro unidades de largura para três de altura, ou 1,3 (a divisão de 4 por 3, arredondada).

Um pouco de aritmética mostra porque isso não ocorre. No DV NTSC, multiplicando-se os 720 pixels da dimensão horizontal da imagem por 0,9 (largura de cada pixel) tem-se 648, que dividido a seguir pelos 480 pixels da dimensão vertical resulta em 1,3 que corresponde à dimensão 4:3.

Fazendo o mesmo cálculo para o DV PAL, teremos que utilizar 576 pixels na dimensão vertical ao invés dos 480 do NTSC, pois o PAL possui dimensão maior nesse sentido. Assim, teremos 720 multiplicado por 1,0666 = 767,952 que dividido por 576 resulta no mesmo valor 1,3.

Mas existem também os pixels de forma quadrada: imagens obtidas a partir da captura e digitalização de um sinal de vídeo analógico (fita VHS por exemplo), imagens obtidas através de scanners e imagens geradas dentro do próprio computador (através de softwares gráficos por exemplo) possuem normalmente pixels desse tipo.

O cuidado que se deve ter é na manipulação desses diferentes conteúdos na ilha de edição, fazendo a indicação correta nos ajustes dos programas para que façam as devidas adaptações nas dimensões dos pixels, gerando conteúdo uniforme em relação a esse aspecto. Se isso não for feito, uma imagem circular em um conteúdo gerado com pixels quadrados por exemplo, pode ficar com aspecto ovalado ao ser transportada para um conteúdo que use pixels estreitos (retangulares em pé), ou esticada lateralmente, conforme as dimensões dos pixels trabalhadas.

Quadrados, esticados em uma dimensão ou em outra, os pixels tomaram lugar definitivamente em relação às antigas linhas contínuas do sinal de vídeo. E suas imagens tornaram-se onipresentes no mundo de hoje, transmitidas desde os cantos mais remotos, algo que os estrategistas das batalhas no deserto jamais poderiam prever, quando mesmo em lugares assim é possível hoje esse tipo de comunicação visual.