Apesar do nosso olho conter em seu interior uma lente - o cristalino - sua descoberta com as explicações das leis da Óptica sobre seu funcionamento levou milhares de anos para acontecer. No entanto, o contato do ser humano com a lente teve início muito antes: imagens produzidas por elas foram vistas na natureza desde a Idade da Pedra, a mais de 2 milhões de anos atrás.

A água da chuva acumulada nos pingos sobre a superfície das folhas permite observar imagens semelhantes às das lentes, na verdade porque devido à sua forma, age como se fosse uma delas. O homem pré-histórico tinha assim já contato com as lentes, embora não soubesse ainda tirar nenhum proveito delas, muito menos entender seu funcionamento.

Mas o homem já a quase 3.000 anos atrás havia observado, também na natureza, a presença de cristais de rocha e sua transparência, permitindo observar as coisas por detrás deles. Alguns deles, em formato peculiar, apresentavam essas coisas de forma ampliada... e não foi senão através de muitas observações, tentativas e erros que acabou aperfeiçoando esses cristais, dando a eles uma forma abaulada. Isso foi feito em busca de uma interessante propriedade apresentada por esses cristais quando nessa forma: ampliavam a imagem de objetos vistos através deles.

Através do atrito, percebeu-se que o cristal ganhava polimento - a imagem mostrada ficava mais nítida. Os registros mais antigos desses objetos relatam a região ocupada atualmente pelo Iraque, denominada na época como Assíria. Próximo da cidade iraquiana de Mosul, em uma região chamada Nínive, foi encontrada uma dessas lentes, datada pelos meios científicos atuais como tendo sido feita por volta de 640 anos AC. Seu diâmetro, 38mm, não difere muito do diâmetro das lentes de algumas câmeras atuais, no entanto, longe de serem usadas para produzir imagens em superfícies, eram utilizadas para enxergar imagens com ampliação, como uma lupa - o que segundo alguns historiadores, explica os finos detalhes de trabalhos de entalhe produzidos por esse povo já nessa época. Outro uso era iniciar o fogo concentrando os raios solares sobre determinados materiais.

O Iraque ainda daria outra importante contribuição para a história das lentes, através de um tratado escrito por Ibn Sahl, já quase 1.000 anos DC, versando sobre espelhos e lentes e suas propriedades com relação à refração dos raios de luz, origem da atual lei de Snell para trabalhar-se com a geometria das lentes.

O nome "lente" tem origem em sua forma com que foi concebida inicialmente (com curvatura para fora em ambos lados, o que se chama formato bi-convexo), semelhante a um grão de lentilha (do latim, lentil). Hoje existem diversos formatos de lentes, cujas diferentes formas dão a elas diferentes propriedades.

Aliás, nas objetivas das câmeras na maioria das vezes o que existe não é uma e sim várias lentes. Isso porque a imagem produzida por uma única lente carece de precisão: lentes apresentam diversos defeitos, chamados tecnicamente "aberrações". Defeitos que podem ser uma simples distorção indesejada na imagem, fazendo com que linhas próximas das bordas fiquem com aspecto curvo - característica marcante das lentes grande angulares, mais visível quanto menor sua distância focal. Mas podem constituir-se também na perda de nitidez nas áreas localizadas nas bordas das lentes (aberração esférica) ou distorções em trechos da imagem formados por raios de luz que atingem obliquamente a superfície delas (aberração do tipo coma).

Esses tipos de defeitos são minimizados através de cálculos de curvatura executados com precisão no bloco óptico, um dos diversos motivos que justificam o alto preço das lentes quando fabricadas para produzirem imagens com grande qualidade.

Quando estudamos os conceitos básicos de lentes aprendemos que os raios de luz as atravessam e se estão fora de sua parte central, sofrem desvios após essa travessia, tanto maiores quanto mais afastados da parte central da lente. A passagem dos raios de luz (e não seu desvio) chama-se refração. Ocorre que, conforme sua cor, esses raios vão-se encontrar em diferentes lugares do outro lado da lente. Assim por exemplo, a imagem de tudo o que é azul na imagem forma-se antes da imagem de tudo o que é vermelho na imagem. Temos aí outro tipo de aberração, chamada cromática.

Mas como fazer, se precisamos que a lente forme as imagens sobre um local determinado, o plano focal, onde está o filme ou o sensor (CCD ou CMOS), nem mais para frente nem mais para trás? Uma outra lente, com material capaz de promover ângulos diferentes de desvio pode ser "colada" na primeira lente. Com isso o problema é bastante minimizado, e ainda mais, se a imagem a ser aproveitada for somente a formada pela parte mais central dessas lentes. É por este motivo que quase todas as objetivas possuem diâmetro bem maior do que o da área aproveitada da área onde a imagem é formada.

Outras providências são também tomadas, como recobrir a superfície dessas lentes com camadas especiais ou mesmo utilizar cristais especiais onde o problema ocorre muito pouco, como a fluorite - outro fator a encarecer as lentes. O material comum vidro raramente é utilizado, assim como a versão policarbonato (a dos óculos inquebráveis) em lentes utilizadas em câmeras profissionais.

Por essa razão normalmente as objetivas são formadas por diversas lentes, a grosso modo, podemos dizer que uma compensa as aberrações das demais. Não é raro encontrar objetivas, especialmente as do tipo zoom, formadas internamente por mais de 10 lentes. Isso influi em seu peso, em sua claridade (=luminosidade) e na capacidade de produzir imagens com boa qualidade.

No princípio no entanto, uma única lente era utilizada nas câmeras fotográficas, tendo sido derivada da lente côncavo-convexa (formato de seus lados) inventada em 1804 pelo inglês William Wollaston para ampliar região de nitidez dos óculos até então usados para fora de sua área central. Ela também melhorava a qualidade da imagem produzida pelas lentes bi-convexas simples, o mesmo tipo utilizado pelo francês Niépce em sua primeira e histórica fotografia - mais tarde ele também adotaria esse tipo de lente para registrar imagens.

Hoje em dia a Óptica avançou muito e grandes fabricantes oferecem objetivas com diversos elementos (lentes) em seu interior e ainda assim mantendo grande luminosidade e precisão de imagem. Essa característica - luminosidade - é preciosa para diversos tipos de trabalhos em fotografia, cinema e vídeo. Se a objetiva é bastante luminosa, admite bastante luz e permite, assim, trabalhar-se com ajustes pequenos de íris. Pouca luminosidade exige aberturas maiores e nem sempre suficientes, passando a exigir complemento de iluminação externa, o que muitas vezes pode encarecer produções - cada ponto de abertura a menos na objetiva corresponde à entrada de metade da luz do que o ponto imediatamente superior.

Outro fator que aumentou o nível de qualidade das lentes foi a presença cada vez maior do HD em vídeo. O cinema sempre possuiu suas lentes, em um patamar de custo que justificava a alta resolução necessária para a formação de imagens em películas. Isso porque lentes fabricadas com menos cuidados e materiais inferiores não conseguem produzir imagens suficientemente livres de defeitos que poderiam ser notados em uma grande ampliação - a tela dos cinemas.

Já o vídeo não convivia com essa realidade, isso até a chegada das imagens em HD e dos televisores de alta resolução. Nessa nova situação os menores defeitos são notados, o que exige maior precisão e custo no fabrico desses materiais ópticos. Diversas câmeras de vídeo em segmentos mais voltados a aplicações profissionais possuem correção de possíveis aberrações via software, dentro da própria câmera ("on-board"), onde o usuário, após carregar na memória uma tabela com especificações de alguns tipos de objetivas que podem ser utilizadas, estabelece o reconhecimento e correções automáticas feita pela câmera a cada troca de objetiva.

Sofisticações muito distantes da imaginação do homem pré-histórico e seus pingos de chuva nas folhas, mas que não devem parar por aí, com o avanço constante da tecnologia.