Desde os tempos remotos o homem tenta abreviar caminhos: muito provavelmente, desde o tempo da idade da pedra evitava dar uma volta maior se podia chegar ao mesmo lugar "cortando caminho".

Essa é a idéia, tornar as coisas mais fáceis, mais rápidas. Podemos encaixar nessa categoria o uso das siglas: ao invés de escrever determinada informação por extenso, com poucas letras podemos representar o mesmo resultado. Para os entendidos no assunto, uma mão na roda. Para muitos no entanto, a lembrança frequente de quanto éramos pequenos e nossas mães nos serviam aquele prato de sopa - de letrinhas. Afinal, qual o significado dessas siglas? Tentando falar sobre algumas delas, relacionadas ao mundo da videoprodução, formamos um conjunto englobando desde siglas bem conhecidas (e suas partes não abreviadas nem tanto) a algumas de uso menos frequente. Bom apetite !!

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AGC (Automatic Gain Control) termo aplicado tanto ao vídeo como ao áudio. Como tudo o que é automático, tem seus prós e contras. Se o volume do som está muito baixo, este controle o aumenta até atingir a proporção ideal. Se a imagem está muito escura, seu brilho é aumentado até tornar-se mais clara e com isso seus detalhes mais visíveis. Tanto em um como em outro caso, o problema está em sua origem, ou seja, na captação deficiente do áudio e da luz. Na impossibilidade de resolver o problema, o controle automático consegue, efetivamente, fazer o que se propõe; no entanto, como quase todos os remédios vendidos na farmácia, tem seus efeitos colaterais. No caso do áudio, os ruídos do ambiente são também amplificados e no caso da imagem, a luminosidade maior vem junto com granulação e "ruídos" claramente visíveis. Obviamente tudo tem sua utilidade: há situações onde não é possível uma captação ideal do áudio e/ou uma iluminação correta da cena. Temos então o AGC contornando o problema.

AVC (Advanced Video Coding) para o público leigo a sigla lembra mais a figura de um hospital do que outra coisa. No entanto, o AVC, ou H.264 ou ainda MPEG4 Part-10 é um padrão criado em 2003 pelo mesmo grupo que desenvolveu o MPEG, agora associado para esta tarefa ao grupo Video Coding Experts do ITU-T (International Telecommunication Union) para digitalização de imagens de vídeo. Em outras palavras o objetivo desse grupo foi criar um padrão que tivesse a qualidade do MPEG2 ou do MPEG4 (já existente nessa época), porém que pudesse por opção fazer isso utilizando taxas menores de tráfego de bits (bit rate) e sem ser excessivamente complexo. A idéia por trás disso tudo era um padrão que pudesse ser utilizado tanto em aparelhos simples como celulares como em sistemas complexos como os de transmissões digitais via satélite.

AVCHD (Advanced Video Codec High Definition) versão do AVC para manipulação de imagens de vídeo em alta definição - HD. Voltado para o segmento consumidor, pode competir em qualidade de imagem com o formato HDV e suas câmeras deste segmento. Desenvolvido pela Sony e Panasonic 2006 para uso em vários tipos de mídias, como cartões de memória, discos ópticos, hard disks e outros.

AVC-Intra (Advanced Video Codec Intra) um pulo do segmento consumidor para o profissional: o formato AVC-Intra é um dos formatos recentes com grande nível de qualidade. O "Intra", no caso, refere-se a "Intra frame". Ao contrário de alguns algoritmos de compressão de imagem como o MPEG2 por exemplo (utilizado, entre outros, no formato HDV), que juntam blocos de frames para comprimí-los como um todo, o AVC-Intra comprime as imagens quadro a quadro, da mesma forma que o fazem formatos como o Mini-DV e o DVCPROHD. Isso resulta em maior qualidade na imagem: formatos deste tipo tendem a serem mais robustos do que os que envolvem altas taxas de compressão. Desenvolvido pela Panasonic em 2006 apresenta-se sob dois tipos, AVC-Intra 50 e AVC-Intra 100, onde os números 50 e 100 referem-se à taxa de bits utilizada; o primeiro (AVC-Intra 50) tem qualidade equivalente à do formato DVCPROHD.

CCD (Charge Coupled Device) esta é uma sigla básica para todos os que trabalham com câmeras de vídeo: trata-se do sensor utilizado na quase totalidade das câmeras comercializadas, tanto de vídeo como de foto. Ultimamente um sensor alternativo ressurgiu no mercado e vem tomando fôlego, prevendo-se que irá suplantar o CCD - trata-se do CMOS, comentado mais adiante. O CCD tem essa sigla em referência ao processo de descarga da energia acumulada dentro de cada um de seus pixels, que, expostos à luz projetada pela objetiva da câmera, produzem-na através do efeito fotoelétrico. É por meio desse processo de retirada das cargas que a imagem projetada no sensor é lida. Como no comercial de TV que mostrava os monges sentados em uma mesa fazendo o tradicional "escravo de Jó", no sentido vertical do sensor, a carga de um pixel é passada para seu vizinho até chegar à sua base. Dali, segue na direção horizontal para a saída lateral do sensor, como se fosse um trem de minério, com os vagões acoplados uns aos outros, daí o nome dispositivo (Device) de cargas (Charge) acopladas (Coupled).

CMOS (Complementary Metal Oxide Semiconductor) na época em que o CCD foi criado, os pesquisadores Boyle e Smith testaram diversas formas de armazenar as cargas geradas nas células fotoelétricas. Uma delas empregava a memória CCD vista acima (na época "CCD" designava somente um chip de memória de computador) e outra a memória CMOS. Na tecnologia CMOS a carga do pixel é transformada em sinal de vídeo dentro da área do próprio pixel, no interior do chip. Na tecnologia CCD esse trabalho é feito fora dele, depois do trabalho dos "monges" e sua música. Os experimentos ocorriam na década de 70 e as técnicas de miniaturização ainda eram muito rudimentares em relação ao que se tem hoje. Não era possível "espremer" esse circuito eletrônico dentro da área de cada pixel de modo a que o painel pudesse ficar pequeno e conter milhares deles. Resultado: o CMOS ficou relegado a câmeras de baixa resolução. Hoje em dia isso foi - em muito - superado e o CMOS ressurgiu, atraindo o interesse das indústrias por ser mais barato, ocupar menos espaço, consumir menos energia e uma série de outras vantagens que o apontam como um dos fortes candidatos a desbancar de vez o CCD.

CRT (Cathode Ray Tube) cada vez iremos ouvir falar menos dele, que foi o vencedor entre muitas tecnologias testadas para exibir imagens eletronicamente quando a TV foi criada. Desenvolvido e patenteado pela RCA, hoje tem sua fabricação controlada por protocolos ambientais que prevêem sua extinção gradativa devido à poluição gerada na sua confecção. Pesado, desajeitado para carregar e com design alto retrô, ainda reina absoluto (porém por pouco tempo) quando o assunto é resolução de imagem. Painéis LCD, OLED (mais sobre eles adiante) aproximam-se muito do CRT nesse quesito, mas para aplicações críticas, como monitoração de determinados tipos de cirurgias e exames clínicos, imagens de radar, como as utilizadas em controle de tráfego aéreo e controle de qualidade de sinal de vídeo, como o que se faz nos departamentos de engenharia dos canais de TV, o CRT ainda é imbatível. Essa situação já mudou para alguns equipamentos de monitoração e para outros está a caminho de mudar em breve. Na área de entretenimento no entanto, nada melhor do que um televisor de tela plana, seja de plasma ou LCD.

LCD (Liquid Cristal Display) também desenvolvido na década de 70, é o painel mais popular no mundo todo, aparecendo em todo tipo de aparelhos imagináveis, de relógios e calculadoras vendidas pelo camelô da esquina a sofisticados painéis de alta resolução empregados em monitores de vídeo. O LCD é em sua essência como um vidro transparente (daí o nome Cristal), que possui pequenos retângulos que deixam de ser transparentes ao receberem cargas elétricas adequadas. Estas cargas são levadas até eles por uma grade de fios que conduzem energia, mas ao contrário dos fios de cobre, são invisíveis por serem também transparentes como o vidro - são fios confeccionados com uma liga de Índio e Estanho. Assim, dessa forma (vidro transparente com pixels que ficam opacos em diferentes gradações) são empregados por exemplo em projetores de home theater. Com um pedaço de folha de alumínio por trás são empregados por exemplo em relógios e calculadoras. E com finos tubos de luzes fluorescentes nas bordas são empregados por exemplo nas telas de LCD dos computadores.

NLE (Non Linear Editing) o termo tende a cair em desuso: ao entrar em uma loja, ninguém mais pede uma "calculadora eletrônica" e sim uma "calculadora". Calculadoras mecânicas ficaram no passado, o mesmo acontecendo com a edição linear, hoje feita em uma minoria de casos. Sem o recurso do computador, para ter acesso ao "sim" da noiva e do noivo era preciso avançar a fita passando pelo salão de beleza, o carro chegando na igreja, a entrada dos padrinhos, a entrada da noiva e finalmente a cena desejada. De forma linear, daí o nome na sigla. Algo que com o computador se faz com um clique, sem precisar passar pelo que vem antes e que permitiu uma grande diminuição no tempo de edição.

OLED (Organic Light-Emitting Diode) ao dar a partida em alguns modelos de carros a surpresa: o painel acende-se e, ao invés de um painel pintado iluminado atrás do ponteiro do velocímetro, surge um painel totalmente luminoso, como se fosse uma folha colorida de papel sob a luz do dia, mesmo que o carro esteja dentro da garagem. Este é o OLED, o painel onde a luminosidade é obtida através da eletricidade que percorre determinados tipos de compostos orgânicos (daí o Organic no nome), em um fenômeno conhecido como eletroluminescência. Telas de OLED para exibição de imagens de vídeo além de serem muito finas tem a vantagem de não exigirem iluminação traseira como as de LCD, o que diminui bastante seu consumo de energia. Além disso são mais leves, possuem imagens mais brilhantes e tem maior resistência a variações extremas de temperatura.