A década de 70 iniciava-se com grandes conquistas tecnológicas feitas pelo homem. A TV havia mostrado, ao vivo, astronautas caminhando sobre o solo lunar, a medicina apresentava soluções para problemas antes considerados de difícil solução e a computação iniciava a revolução que levaria anos mais tarde aos microcomputadores. E era uma solução tecnológica que um operador de câmera chamado Garrett Brown buscava, incessantemente, para um antigo problema do cinema: estabilizar imagens capturadas com a câmera na mão.

O problema estaria resolvido se fosse possível isolar a câmera das trepidações causadas pelos movimentos do operador. Mas... como conseguir isso? A primeira idéia que surgiu veio de uma das propriedades da matéria, a inércia: devido a ela, ao carregar uma pesada escada de pintor, embora nosso corpo efetue movimentos ondulatórios de sobe/desce durante o percurso, a escada pouco se movimenta neste sentido. O mesmo não ocorreria se a escada fosse de papelão por exemplo, ou seja, quanto maior o peso (massa, para sermos mais precisos), maior a inércia. Garrett montou então em uma longa haste de metal um suporte para uma câmera de 16mm em uma das extremidades e colocou alguns pesos na outra, para contrabalancear a peso da câmera. Fez a seguir diversos testes com sua invenção, ao longo dos quais algumas idéias iam surgindo para melhorar o sistema. A barra foi substituída por um paralelogramo para manter a câmera sempre na posição vertical e um suporte para a mão foi acrescentado no ponto central do mesmo, para direcionar a estrutura para cima e para baixo ou para os lados. O peso disso tudo isso era suportado por um sistema de cabos, ligando o ponto central do paralelogramo a uma alça apoiada em seu ombro.

Faltava ainda resolver um problema: como a câmera ficava bem longe dos olhos do operador, não era possível enxergar seu visor. A solução: um cabo flexível de fibra óptica de 8mm de diâmetro ligava o visor da câmera a um suporte fixado na cabeça do operador, com um visor ali instalado bem defronte a seu olho. Nascia assim o embrião do futuro Steadicam.

Não sem ainda muitos problemas. Os resultados filmados eram bons, mas a estrutura era demasiado pesada e desajeitada. De volta à prancheta, Garrett reformulou totalmente seu invento: para aumentar a resistência a movimentos do conjunto, separou a pesada bateria do corpo da câmera, distribuindo assim o peso do conjunto através de uma estrutura de tubos aos quais estes componentes foram afixados. Para isolar o conjunto câmera / bateria de movimentos de inclinação construiu um mecanismo onde o mesmo era apoiado através de um pino em uma haste, podendo mover-se livremente. A haste suportava o peso do conjunto, mas não transmitia a ele movimentos angulares (inclinações para os lados, mantendo o conjunto de pé, na vertical), mesmo princípio utilizado por alguns brinquedos que equilibram-se através de um pino sobre uma haste vertical. Para isolar a haste dos movimentos do operador, usou dois paralelogramos articulados com molas, fixados um ao outro, retirados de suportes de lâmpadas de escrivaninhas de escritórios. Finalmente, um colete preso a seu tórax trazia uma estrutura na qual o paralelogramo livre era afixado.

O ano era 1973 e nascia o primeiro protótipo de Steadicam patenteado por Garrett, ainda com o nome "Brown Stabilizer" e ainda utilizando como visor o suporte para cabeça com fibra óptica, que logo seria trocado por um monitor, fixado na estrutura tubular onde câmera e bateria já eram montados. O peso do monitor ajudava ainda mais na estabilização do conjunto, contribuindo para a distribuição da massa do mesmo. Com esta reformulação Garrett deixava de lado um dos objetivos de sua invenção original com a haste de ferro: que a câmera pudesse ser levada pelo dispositivo desde acima de sua cabeça até o nível de seus pés. Por outro lado, o conjunto ganhava muito em estabilidade e agilidade.

O nome Steadicam nasceria no ano seguinte, após Garrett ter tentado sem sucesso comercializar seu invento com a Panavision. Com a recusa, acabou procurando uma pequena e recém criada empresa, chamada Cinema Products, que se interessou pelo seu estabilizador de câmeras. Seu proprietário na época, Ed DiGiulio, insistiu com Garret que trocasse o nome "Brown Stabilizer" por "Steadicam", um nome muito mais apropriado para a divulgação e comercialização daquele equipamento, uma vez que resumia em uma única palavra seu objetivo: estabilizar câmeras.

Seu criador e seu invento não podiam estar mais certos quanto a revolução que causariam no mundo das artes visuais: em 1978, Garrett Brown e a Cinema Products Corporation ganhariam um Oscar (e um Emmy 12 anos após) pela inovadora criação. O filme Bound for Glory (Esta Terra é Minha Terra), de 1977 - o primeiro filme a utilizar Steadicam em algumas de suas cenas, operado por Garrett - ganharia também um Oscar de Melhor Fotografia. A seguir Garrett operaria uma das câmeras utilizadas no filme Rocky (Rocky, O Lutador), também montada em um Steadicam. Na sequência viria Marathon Man, onde o equipamento se destacaria ao permitir que a câmera seguisse os personagens em meio a uma multidão nas ruas de um distrito de Nova Iorque, feito impossível de ser realizado antes sem perturbar a vida natural do local e sua espontaneidade com a instalação de trilhos para mover a câmera sobre um dolly.

O trabalho no filme seguinte, The Shining, do renomado diretor Stanley Kubrick, nasceu do   entusiasmo de Kubrick após ter assistido a um demo das possibilidades do Steadicam. Para este filme, Garrett criaria uma nova possibilidade de montagem do equipamento, com a câmera invertida, ou seja, bateria e monitor na parte superior da estrutura tubular e a câmera localizada na parte inferior. E, ainda, uma nova forma, opcional  de segurar o equipamento, utilizando as duas mãos ao invés de uma, cada qual fornecendo um movimento diferente para a câmera. Finalmente, pela primeira vez era utilizada em algumas cenas uma câmera com captação de som (Arri BL).

Muitas alterações viriam a seguir ao longo dos anos, tendo sido adicionadas diversas melhorias e modificações, grande parte como resultado dos trabalhos desenvolvidos pelo próprio Garrett, tornando o equipamento mais versátil e mais fácil de usar. A câmera, antes fixa na estrutura, passava a poder ser removida com facilidade. Câmeras de 35mm, 16mm e vídeo passaram a poder ser utilizadas. O monitor ocupou diversas variações de posição ao longo do tempo, até localizar-se na posição intermediária entre as baterias e o suporte para a câmera. Sua tela, no início P&B passou a ser em fósforo verde (semelhante à dos antigos computadores), para melhorar a visibilidade em locais sob Sol aberto. Para controlar o foco (trabalho realizado pelo assistente de foco, enquanto o operador concentra-se nos movimentos da câmera), um equipamento transmissor / receptor de rádio foi desenvolvido para ser instalado no Steadicam. Desta forma, o assistente, remotamente, conseguia controlar o foco, enviando comandos que acionavam servo-motores controladores da movimentação das lentes. Adicionalmente, conseguia-se controlar também a íris e o zoom. Um transmissor de vídeo captava a imagem exibida no monitor afixado na estrutura do Steadicam, enviando-a para um receptor localizado em uma mesa, através do qual o diretor e sua equipe poderiam conferir o que estava sendo registrado. Estas e diversas outras  implementações e aperfeiçoamentos foram tornando ao longo do tempo o Steadicam um equipamento cada vez mais resistente e ágil nas tomadas de cenas.

Na TV, sua estréia ocorreu em 1976, no show de entrega do Emmy Awards. Viriam a seguir utilizações em esportes, concertos de rock e diversos outros eventos e seriados, como no ER por exemplo, com a câmera seguindo em velocidade pacientes pelos corredores do hospital.  Em 1990 surgia o Steadicam Jr, destinado a câmeras semi-profissionais de vídeo; menores e bem mais leves do que as câmeras empregadas em cinema, permitiram abolir-se o colete ao qual o equipamento é preso em sua versão original. No Steadicam Jr, a haste na qual é afixada a câmera é suportada diretamente com uma das mãos e o direcionamento da câmera realizado com a outra mão. Um pequeno visor do tipo LCD, fixado à haste permite monitorar o que está sendo gravado. O Steadicam chegava ao alcance do videomaker.

Em termos de linguagem, o uso do Steadicam trouxe uma nova estética às imagens gravadas. Antes da invenção do pequeno monitor separado do visor da câmera, o enquadramento da imagem tinha que ser feito necessariamente através do viewfinder. Isso acabou criando um look comum aos vídeos e filmes do tipo "eye-level" (nível dos olhos, ou seja, a imagem vista a partir da altura dos olhos do operador(a) da câmera). Ainda que com o viewfinder seja possível baixar a câmera por exemplo ao nível da cintura e observá-lo movendo-o de sua posição horizontal para vertical, o monitor propicia uma flexibilidade de posicionamento da câmera muito maior, livrando-a com mais facilidade do look "eye-level". O operador pode compor a cena com mais objetividade, por estar distante da tela do monitor. Ao mesmo tempo em que observa a tela, tem uma compreensão maior do que acontece ao seu redor, devido a sua visão periférica, ao contrário da imersão a que se submete o operador com o uso do viewfinder.

Os astronautas voltaram a caminhar ainda mais outras vezes sobre a Lua, a medicina continuou a surpreender com suas novas curas e o celular associou-se com a TV. Ed DiGiulio vendeu sua empresa e o Steadicam, hoje comercializado pela The Tiffen Company, foi a grande invenção tecnológica sonhada por Garrett Brown com que contou o cinema e a TV a partir da década de 70.