Geralmente o título de um trabalho é algo que se deixa para pensar no final. Um dos motivos é que enquanto trabalhamos, nossas idéias às vezes mudam, outras surgem e o que havíamos imaginado no início nem sempre tem total identidade com o resultado final. Assim, é melhor deixar para pensar no título quando tudo está pronto - exceto ele.

Montar o título é uma das tarefas mais fáceis no processo de edição de um material gravado: a maioria dos programas de edição traz embutida uma função para fazer isso, de forma bastante simples e amigável. No entanto muitas vezes o resultado final pode desapontar, não por culpa do software, mas por desconhecimento de diversas regras e dicas simples, dominadas a anos pelos profissionais da área.

O objetivo aqui é trazer algumas dessas dicas, pensando que o nosso título será montado através de um programa de edição de vídeo. Seguem então algumas dessas dicas...

Margem de segurança

O próprio programa de edição já dá essa dica, ao exibir linhas em forma de molduras na tela, indicando que se deve escrever dentro da área segura, a "safe area". O que significa isso? Nos aparelhos de TV, principalmente nos de tubo, você pode reparar que o tubo fica por dentro de uma moldura plástica que o envolve. E que essa moldura "corta" um pedaço da imagem nas laterais. O quanto é cortado é pouco, mas varia de modelo para modelo de aparelho. Para evitar que algumas letras do título sejam cortadas é que existe essa margem de segurança.

Fontes de linhas finas

É então que você decide usar aquele fonte de letras finas que ficou ótimo no convite de casamento. Errado: fontes com traçado fino em suas linhas devem ser evitados, não só por terem legibilidade menor, mas também por sofrerem mais com a compressão da imagem, comum por exemplo no momento de fazer-se uma autoração, gerando um DVD cujo conteúdo, em MPEG2, é criado a partir de um original em ".avi". O título pode aparentar boa legibilidade quando visto no computador, antes das imagens serem comprimidas para gerar o disco. O processo no entanto apresenta com frequência os chamados "artefatos de compressão", tanto mais visíveis quanto maior for a taxa de compressão aplicada. Alguns trechos podem ter pixels aparecendo com uma "sombra colorida" à sua volta por exemplo. Isso é mais comum em regiões da imagem com bordas contendo alto contraste, e aplicado a finas linhas das letras de alguns fontes torna a aparência dessas linhas um pouco "borrada", fato notado principalmente em televisores de baixa resolução. A dica então é procurar evitar esses tipos de fontes, optando pelos de traçado mais espesso.

Linhas finas horizontais

Da mesma forma as linhas finas horizontais, geralmente empregadas em páginas da Internet para separação de assuntos e setores, devem ser evitadas no vídeo. Como a quase totalidade dos televisores funciona no modo interlaced (campos alternados desenhados na tela, primeiro as linhas pares, depois as ímpares, de novo as pares e assim por diante), é possível que essa linha fina venha a cair justamente em cima de uma ou duas linhas do sinal de vídeo. Com, isso, como cada campo aparece de modo alternativo em relação ao outro, a linha passará a "piscar" (flicker), apresentando assim aspecto ruim.

Fontes do tipo sans serif

O termo "serif" indica as pontas finas que fazem parte do desenho das letras. Assim por exemplo, o fonte Times New Roman possui as extremidades da letra "S" maiúscula em forma de pontas afinadas, o mesmo não acontecendo para os fontes Arial e Helvética. Para melhor legibilidade em vídeo (cujo conteúdo pode vir a ser mostrado não só em grandes telas com boa definição com em telas pequenas de TVs convencionais) o ideal é utilizar fontes com letras sem essas pontas, conhecidos como "sans serif" (sem serif).

Cores facilmente saturáveis

Não há, de modo geral, restrição a cores nas letras dos fontes de títulos, exceto para o vermelho. Esta cor apresenta-se muito facilmente saturável quando todas as demais estão equilibradas. E diminuir sua saturação geralmente implica diminuir o nível geral de coloração, ou seja, a imagem torna-se esmaecida, desbotada. Assim, sempre que possível, deve ser evitada essa cor, principalmente em sua tonalidade mais viva.

Cores no monitor e na TV

Você que leu a dica acima faz o ajuste perfeito na coloração do título, equilibrando a cor de fundo com a cor das letras, escolhendo os tipos de fontes corretos, etc... Passa então para o passo seguinte, a autoração do DVD. Depois retira o disco do drive de gravação apenas para constatar que sua reprodução no dvd player mostra uma imagem que nem de longe lembra aquela vista na janelinha de preview do programa de edição. O que aconteceu? Os monitores de computador e os televisores funcionam de modo semelhante, porém não igual. Os ajustes de reprodução de cores (gama) são diferentes, o modo de exibição das imagens (progressive scan no computador, interlaced no televisor) é diferente e ainda outros fatores mais que fazem com que a tonalidade e o brilho da imagem fiquem também diferentes em um e em outro. A dica aqui é verificar sempre, através de um monitor de TV comum, as cores escolhidas e o resultado final, antes de efetuar a gravação, quando ainda é possível fazer ajustes no material a ser finalizado.

Ainda o vermelho

Determinadas cores, como o vermelho, devem ser evitadas em títulos também por um outro motivo: sua tendência de "vazar" para fora da área delimitada pelas letras. Assim, enquanto a cor azul por exemplo permanece dentro dos limites do contorno de uma determinada letra, variações de tons vermelhos, especialmente os mais vivos, podem extravasar ligeiramente esses limites (o chamado "vazamento"), na forma de pequenos borrões em cima dos contornos. O problema, praticamente inexistente na tela do computador, certamente aparecerá na tela do monitor ou TV alimentada com o sinal de vídeo. Se for necessário o uso dessa cor, uma forma de amenizar bastante o problema é usar um contorno externo às letras (outline) na cor preta.

kerning de fontes

Pois é, esse nome pode dar o que pensar, mas basta afastar-se da tela do computador, na ilha de edição para perceber seu significado. Compor um título na tela do micro da estação de edição é bem diferente de tentar lê-lo na tela de um televisor: a distância não é a mesma e a resolução da tela não é a mesma. De longe, com menor resolução, textos podem ficar difíceis de serem lidos. Uma providência que pode ser útil (em alguns casos), é aumentar o espacejamento entre as letras do título, algo como fazer (a a a a) ao invés de (aaaa). O espaçamento de caracteres recebe normalmente nos softwares de edição de textos o nome "kerning". Ajustando-se o valor do kerning utilizado, pode-se afastar todas as letras de uma só vez, umas das outras, ou então aproximá-las, dentro de um certo limite de espaço, melhorando assim a sua legibilidade.

Quantidade de fontes

Aqui vale o mesmo comentário que se faz para os efeitos e transições no processo de edição: a menos que você esteja montando um "mostruário" do que o seu recém adquirido super-programa de edição é capaz de fazer, a regra é "quanto menos, melhor". Assim como estabelecem as regras da boa comunicação na imprensa escrita e na Internet, também no vídeo essas regras são válidas. A quantidade de fontes diferentes deve ser restrita. Não mais do que 2 ou então 3 tipos diferentes de fontes deve ser utilizado em determinado trabalho. O uso de poucos fontes permite obter concisão na comunicação, passando o fonte x ou o fonte y a ter significado específico. Assim, por exemplo, em um vídeo de propaganda de uma empresa, toda vez que aparecer o nome de um produto é utilizado o mesmo fonte (tipo, tamanho, cores e efeitos), outro fonte é reservado para texto comum, etc...

Sombreamento das letras

Tudo o que puder ser utilizado para melhorar a legibilidade é válido. Como o sombreamento do fonte. Alguns recursos do editor de textos existente nos programas de edição podem ser utilizados para melhorar a legibilidade das letras nos títulos. Um desses recursos é o contorno (outline), útil principalmente para destacar as letras de determinados fundos com cor parecida com a das mesmas. Sombras melhoram ainda mais a legibilidade, dando a impressão de que as letras tem 3 dimensões, destacando-se do plano de fundo.

Tamanho é documento

Em se tratando de tamanho das letras nos fontes sim. Devemos sempre lembrar que o que é legível na tela do computador, bem à frente do nosso nariz, deverá ser legível também da poltrona da sala, na tela comum da TV, muitas vezes vista à boa distância, em condições péssimas de iluminação ambiente e em uma TV com baixa resolução. Assim, o ideal é fazer alguns testes iniciais até determinar o melhor tamanho a ser empregado. Muito pequeno resulta em pouca legibilidade e muito grande, em um aspecto amador. O ideal é um tamanho intermediário, mas ainda assim, maior do que o normalmente empregado em títulos em programas de edição de texto.

Quanto tempo?

Títulos devem ser mantidos na tela o tempo suficiente para que o público possa lê-los mas... como calcular este tempo? Uma regra simples é fazer o cálculo lendo o texto em velocidade menor do que a habitual, imitando alguém com leitura vagarosa; se para este tipo de leitura o tempo for suficiente, com certeza também será para os demais assistentes.

Títulos à meia noite ...

No momento de colocar algum título sobre uma imagem, deve-se ter em mente que o título, e somente ele (suas letras), é importante. Programas de edição permitem o uso de efeitos os mais variados possíveis, como colocar uma moldura ao redor da imagem com o título ao centro por exemplo. Como opção, essa moldura pode ser animada, com variação de formas e cores. O resultado final é que a moldura acaba chamando mais a atenção do expectador do que o próprio título, "sugando" sua atenção, em um efeito negativo conhecido como "vampirismo". Existem diversas situações e variações de vampirismo. Letreiros podem ser utilizados durante um programa para indicar por exemplo o nome de alguém concedendo uma entrevista. Neste caso, sua única finalidade é informar o nome e por isso, deve ser o mais simples e discreto possível. O expectador deve ter sua atenção desviada somente para ler o título e voltar a ver a imagem, e não para ficar observando alguma animação interessante efetuada sobre o mesmo. Já na abertura de um programa por exemplo, tudo o que se quer é chamar a atenção sobre o título, caso inverso, onde ele é o mais importante e portanto pode receber todo o destaque possível.

Rolando para cima...

Como a quase totalidade dos televisores funciona no modo interlaced, alguns cuidados devem ser tomados no scrolling vertical de títulos (rolagem vertical das linhas de texto). Se a velocidade de rolagem for muito baixa, é possível que ocorra a situação de determinados pedaços das letras (traços horizontais) ficarem piscando momentaneamente, se esses trechos caírem justamente em cima de uma ou duas linhas alternadas do sinal de vídeo. Como cada campo aparece de modo alternativo em relação ao outro, o trecho passará a piscar (flicker), apresentando assim aspecto ruim. A dica é ajustar a velocidade de rolagem para pelo menos 2x a velocidade de desenho das linhas na tela. Isso corresponde, de modo geral, a um tempo em torno de 4 segundos para a linha percorrer, verticalmente, a tela de baixo para cima (geralmente o scrolling é feito nesse sentido).

Seguindo essas regras simples, seus títulos ganharão destaque e, o que é mais importante, qualidade. Bom trabalho !!