No trânsito lento do congestionamento, a luz de freio do carro da frente mais uma vez se acende. É noite e  ainda falta muito para chegar ao final da avenida e ali percorrer ainda outras avenidas e ruas até o destino final: o famoso - ainda mais nessa hora - aconchego do lar...

De repente, no espelho retrovisor, uma luz muito intensa. Muito mais clara do que as outras luzes, chama a atenção na noite escura, ao destoar das outras luzes ao redor. Proveniente dos faróis de um carro, faz todos os outros faróis parecerem fracas luzes amareladas. Se você sempre considerou branca a luz dos faróis do seu carro, está na hora de rever a questão.

Afinal, o que é e o que não é branco? Como diria sir Isaac (o Newton), a luz branca é a mistura de todas as outras cores; sua demonstração para essa afirmação era pintar várias faixas coloridas a partir do centro de um disco e colocá-lo para girar, fazendo com que as cores dessem lugar ao branco. Esse é o branco que vemos em uma folha de papel ... branca, certo? Depende. Tudo o que vemos no mundo ao nosso redor só se nos apresenta com cores, brilhos e tons porque é iluminado por alguma luz. Obviamente é por isso que em um quarto completamente escuro não enxergamos nada. É preciso uma fonte de luz para que enxerguemos, uma lâmpada ao menos (acesa). Como funciona esse processo?

Para entendermos melhor a questão podemos lançar mão do conceito de modelo de cor. Existem vários modelos de cores, mas o que nos interessa aqui é o RGB, abreviação em inglês das cores que o formam, Red, Green e Blue. Resumidamente o modelo propõe que sir Isaac poderia, ao invés de pintar um elenco variado de cores em seu disco, dividí-lo em somente 3 faixas e pintá-las de vermelho, verde e azul. O resultado, ao girar o disco, seria o mesmo. Em outras palavras, a cor branca é obtida como a soma dessas 3 cores, chamadas cores primárias.

Voltando ao exemplo da lâmpada, a luz que dela sai atinge a superfície do papel: a superfície dos objetos (e também pessoas, animais e plantas) possui a propriedade de refletir, em maior ou menor grau, uma parcela dessa luz incidente. E mais do que isso, reter (e não refletir) parcelas em graus variados das cores componentes do RGB. Uma folha de papel de cor amarela tem essa cor porque absorve (não reflete) todos os raios da cor azul que a atingem. As cores refletidas então serão o verde e o vermelho, que, somadas, são percebidas por nossos olhos como a cor amarela. Se vermelho e azul fossem totalmente absorvidos, teríamos a reflexão somente do verde: a folha de papel teria então essa cor. Uma folha branca reflete em igual intensidade todas essas 3 cores. Para chegarmos às infinitas variações de tonalidades e cores existentes basta variar o grau de absorção de cada um desses componentes RGB.

Mas o nosso raciocínio parte do princípio de que a luz que ilumina o papel é uma luz branca pura, o que significa possuir iguais porções de cada um dos componentes RGB. Mas, no mundo real, isso dificilmente acontece. Se pensarmos nos tipos de luz de que podemos dispor, logo perceberemos a divisão em luz natural e luz artificial. A natural é a luz do Sol (ou da Lua, indiretamente refletida do Sol) e a artificial a dos mais variados tipos de lâmpadas existentes.

Antes de chegar ao nosso planeta a luz do Sol pode ser considerada uma luz branca pura, com iguais proporções das cores RGB. Mas isso logo muda de figura assim que esses raios atravessam a atmosfera da Terra. Há, devido aos gases aí existentes, uma ligeira absorção das cores vermelho + verde, o que confere uma tonalidade azulada à luz solar que atinge a superfície do nosso planeta. Essa tonalidade no entanto muda, de acordo com fatores que atuam na atmosfera e na posição do Sol em relação à Terra.

Na atmosfera não existem somente gases em sua forma mais pura, existem também ali poeiras decorrentes do vento que age na superfície do planeta, da combustão natural ou provocada pelo homem (poluição) de diversos elementos. Quando os raios penetram a atmosfera próximo ao meio dia, atravessam a atmosfera de forma aproximadamente perpendicular à sua superfície. Quando o fazem no início ou no final do dia, atravessam a atmosfera de forma oblíqua, percorrendo com isso um trecho muito maior dela do que próximo ao meio dia.

Essas poeiras terão assim papel bem mais preponderante na trajetória dos raiosdo Sol nesses períodos de início e final de dia. Seu efeito sobre a luz éabsorver em maior intensidade as cores azul e verde, alterando assim acombinação de cores que produz o azul da luz do meio dia e criando a tonalidade"puxada" para o amarelo da luz do Sol nesses períodos. Quanto mais oblíqua foressa trajetória (mais cedo ou mais tarde for o horário), maior o percurso dosraios na atmosfera e maior portanto a tonalidade amarelada.

Fica fácil agora imaginar o que acontece com a folha "branca" de sulfite ao ser iluminada pelo Sol do final da tarde comparada à mesma folha iluminada pela luz do Sol do meio dia, o conhecido "Sol a pino". Você poderá no entanto argumentar - com razão - que não consegue perceber a diferença ao olhar para a folha de papel nas duas situações citadas. Existe uma explicação para isso: nosso cérebro aprende o que é branco e "corrige" o tom do papel, diminuindo o excesso de amarelo. E assim com todas as demais cores.

Vamos considerar então a luz artificial. O que ocorre aqui? Da mesma forma que a luz do Sol ao atingir a superfície terrestre, a cor emitida pelas lâmpadas também não é o branco puro. Cada tipo de lâmpada emite luz em uma tonalidade diferente. Olhando pela janela do carro (ainda agora longe do final da avenida, no congestionamento) você vê a luz fortemente amarelada dos postes de luz da iluminação pública. E também alguns postes em outros locais com lâmpadas de cor bem mais clara. Lâmpadas do tipo vapor de sódio emitem luz amarela ao passo que as do tipo mercúrio emitem luz em tom ligeiramente azulado. Quando você estiver entrando em sua casa, poderá acender lâmpadas incandescentes (de tom mais amarelado) e também fluorescentes comuns (de tom ligeiramente esverdeado). A lâmpada da maioria dos faróis dos carros é do tipo incandescente, a lâmpada de cor muito mais clara do farol que você acabou de ver é do tipo xenônio.

A figura dos bonecos de pedra abaixo mostra o efeito da iluminação com luzes de tipos diferentes:

Os bonecos, fotografados em diferentes condições de luz, mostram-se diferentes de uma imagem para outra. Por quê acontece isso? Porque embora, como foi dito, nosso cérebro efetue correções nas cores e não perceba essas alterações, as câmeras as registram fielmente, desprovidas que são de um mecanismo corretor como o nosso. Assim, na primeira foto a iluminação era do tipo incandescente, o que conferiu aos bonecos o tom amarelado. Na segunda, a luz incandescente foi trocada por um par de lâmpadas fluorescentes, conferindo a tonalidade ligeiramente esverdeada aos mesmos. A terceira foto mostra a cor real dos bonecos, obtida sob luz incandescente com um ajuste feito na câmera. Que tipo de ajuste é esse?

Esse ajuste é o white balance, ou ajuste (balanço) do branco. As diferentes tonalidades da luz que ilumina os bonecos ocorrem porque a intensidade das 3 cores RGB não são as mesmas para cada tipo de lâmpada. O que o processo do white balance faz então é reajustar essas cores, compensando uma e outra para que as intensidades de cada uma fiquem iguais, ou seja, vermelho=verde=azul.

Nas câmeras profissionais e semi-profissionais é possível efetuar manualmente este ajuste, "batendo-se o branco". Isso é feito apontando-se a câmera para uma superfície branca de modo que ela ocupe toda a área do visor. É importante que esta superfície esteja bem próxima do objeto a ser gravado (no exemplo, os bonecos), para que fique sujeita ao mesmo tipo de iluminação. Feito isso basta pressionar, nessas câmeras, o botão white balance. Após alguns segundos aparecerá no visor a indicação de que o processo terminou e você poderá observar também que no momento em que isso ocorre, a imagem branca focalizada por você torna-se, instantaneamente, mais branca. Isso ocorreu porque a câmera ajustou (aumentou / diminuiu) cada uma das cores RGB até que o equilíbrio ideal fosse atingido. Enquanto o processo não for refeito, a câmera manterá essa correção. Por isso é também importante sempre bater novamente o branco ao mudarem as condições de iluminação.

Existe a possibilidade de fazer este ajuste de forma automática, através de mecanismos que todas as câmeras possuem. No entanto, o ajuste manual é o mais preciso de todos, por isso mesmo sempre utilizado em produções profissionais. Por outro lado, essa regra não é rígida: em videoreportagens muitas vezes não há tempo para ajustes deste tipo, lança-se mão então do ajuste automático.

Chamado auto white balance, o ajuste automático tenta o tempo todo fazer o equilíbrio das cores, para onde quer que a câmera seja apontada. O circuito inteligente da câmera consegue na maioria das vezes distinguir o desbalanceamento da luz em uma cena da cor existente em um elemento dessa cena, não tentando por exemplo corrigir o azul do céu na imagem de um pássaro voando para torná-lo branco.

Existe ainda outro tipo de ajuste, o semi-automático. Neste tipo, dizemos previamente à câmera qual a situação predominante de luz no local e ela efetua as correções com base nessa informação. O ajuste indoor por exemplo supõe excesso de amarelo na imagem (por causa das lâmpadas incandescentes) e tenta corrigir a situação diminuindo a intensidade do amarelo na imagem.

A seguir, algumas dicas para trabalhar com o white balance da câmera:

- é útil carregar um cartão ou papel branco na maleta da câmera; nem sempre se consegue facilmente uma superfície branca no local da gravação, que esteja próxima ao motivo enquadrado no visor da câmera.

- em situações onde não exista essa superfície pode ser utilizado um trecho de roupa branca de alguém presente no local: peça para a pessoa "posar" para o ajuste, enquadrando totalmente o visor com a parte branca de sua roupa.

- embora possa parecer estranho, uma folha de jornal também funciona em emergências, desde que impressa somente em preto e branco. Nesse caso, o preto das letras não vai interferir no ajuste das cores, embora o papel não seja perfeitamente branco.

- às vezes você está na mesma locação, mas não percebe a mudança nas condições de luz; fique atento com o decorrer das horas: em uma locação externa, a luz do Sol da manhã é diferente da luz do Sol próximo do meio dia, que por sua vez difere da luz do Sol da tarde.

- é importante que a superfície contra a qual vai ser feito o batimento do branco esteja iluminada com a mesma luz que ilumina o motivo a ser gravado: se a câmera está na sombra e o motivo no Sol, a superfície branca também tem que estar no Sol e não ao lado da câmera.

- em locações internas, fique atento a luzes que são ligadas ou desligadas e também reposicionadas entre um take e outro: isso pode exigir um novo balanceamento na câmera.

- efeitos interessantes podem ser obtidos batendo-se o branco em superfícies coloridas.

Depois que entrar em casa logo você vai esquecer o congestionamento, mas não esqueça de balancear corretamente o branco na próxima gravação que fizer!