Se aquela propaganda do sabão em pó estiver certa, existirá sempre um branco mais branco do que os outros. Mas... afinal, o que é branco, ou, melhor, o que significa a cor branca? Sabemos que todas as cores podem ser formadas a partir da combinação de algumas poucas delas, chamadas cores básicas, o conhecido trio de cores RGB - Red, Green, Blue. Se combinarmos luzes nas cores vermelha, verde e azul na mesma proporção de intensidade obteremos luz branca. Se, a seguir, com esta luz obtida, iluminarmos uma superfíce branca qualquer, ela igualmente nos parecerá branca. Na verdade, por trás desta equação simples está a resposta para entendermos como funcionam as cores que o nosso olho percebe.

A cor que uma determinada superfície possui depende da luz que ilumina essa superfície e depende também de como ela reage a essa luz. Entendendo melhor: a tinta da caneta esferográfica azul é azul quando iluminada por uma luz branca (a que possui mesmas quantidades de vermelho / verde / azul) porque absorve toda luz vermelha e verde e reflete toda a luz azul. Ou seja, a cor depende de como a superfície reage à luz que a ilumina (que cores absorve e que cores reflete). A batata frita é amarela porque reflete o vermelho e o verde e absorve o azul: vermelho + verde = amarelo. Variando-se e combinando-se diferentes proporções absorvidas/refletidas das cores RGB obtém-se todas as demais cores, como por exemplo o marrom do chocolate.

Agora vamos pensar naquela camisa do sabão em pó: por quê ela é branca? Ela é branca porque reflete em iguais proporções cada um dos componentes RGB e a soma destas três cores é a cor branca. Muito bem, vamos agora fazer uma coisa: tirar uma foto com uma câmera comum dessa camisa debaixo da luz fluorescente que ilumina a área de serviço e depois outra debaixo da luz incandescente do quarto. Ao revelar, surge o resultado: a camisa está ligeiramente esverdeada em uma foto e amarelada na outra. Propaganda enganosa do sabão em pó? Não. Na verdade isso acontece, como foi dito acima, porque a cor de uma determinada superfície depende, além de como ela reage à luz que à ilumina, também da própria luz que a ilumina.

As luzes em nosso mundo possuem diferentes tonalidades (temperaturas) de cor: a luz incandescente tende para o vermelho, a fluorescente comum para o verde. A luz do Sol seria a mais equilibrada em termos de frequências do espectro de cores. Seria, porque isso acontece lá fora no espaço, até que ela chegue ao nosso planeta. Elementos da atmosfera tornam-a ligeiramente avermelhada no início e no fim do dia. Um dia com céu nublado torna-a ligeiramente azulada e mesmo em dias claros um tom ligeiramente azulado também acontece, decorrente da cor azul do céu. Assim, no mundo real, é muito difícil obter-se uma luz perfeitamente branca. E como a camisa "branca" reflete toda a luz que incide sobre ela, está explicado porque existem brancos e mais brancos. Só que no nosso mundo da videprodução não é aceitável o ator sair da cozinha da casa com a camisa de uma cor e chegar na sala com a camisa de outra cor. Mas porque isso não nos incomoda, ou pelo menos não nos chama a atenção em nossas próprias casas e ao mesmo tempo aparece naquelas fotos mencionadas acima?

Isso acontece porque o nosso cérebro percebe essas variações de tonalidade nas cores e na maioria das vezes efetua correções: certamente nunca ocorreu a você perguntar a alguém de sua casa se trocou de roupa quando veio da cozinha para a sala. Em outras situações em que não está acostumado nosso cérebro não se preocupa com isso: é quando você "descobre" que seu carro estacionado à noite debaixo do poste de luz de mercúrio na rua "mudou de cor". Porém a máquina fotográfica, a câmera de vídeo e a câmera de cinema não possuem cérebro como nós (pelo menos por enquanto...), então elas vêem e registram as coisas como realmente elas são. Para corrigir estes problemas, fotógrafos e cineastas lançam mão de filtros colocados sobre a objetiva: um filtro azul por exemplo corrige o excesso de vermelho. Ou então de películas fotográficas previamente balanceadas para determinada finalidade: um filme do tipo "indoor" por exemplo é menos sensível ao vermelho.

No mundo do vídeo podem ser utilizados também filtros e quanto às fitas, claro, ao contrário dos filmes não existe fita de vídeo mais sensível a uma determinada cor do que a outra. Porém o recurso mais utilizado aqui é o balanço do branco, ou, white balance. Se o problema todo se resume a um desequilíbrio nas proporções das cores básicas, bastaria ajustá-las para mais ou para menos até este equilíbrio ser atingido. Na realidade é isso mesmo o que o circuito eletrônico da câmera faz, como se existissem ali "botões de volume", iguais aos de som, só que para cores, um para cada cor básica: aumentando ou diminuindo esses "botões", até que as intensidades fiquem iguais, ou seja, vermelho=verde=azul.

O processo, conhecido como "bater o branco", consiste em apontar a câmera para uma superfície branca qualquer, no local onde a gravação será feita, enquadrando-a completamente no visor. A seguir pressiona-se durante alguns segundos um botão existente nas câmeras profissionais e na maioria das semi-profissionais: o botão white balance, até que apareça no visor a indicação de que o ajuste terminou. Durante esse tempo, o circuito eletrônico da câmera analisa o que ela está "vendo", decompondo o sinal lido em R+G+B, supondo que deveria ser um branco correto, ou seja, que R=G=B. Se no entanto o vermelho por exemplo for mais intenso do que as outras duas cores, ele diminui sua intensidade, até que R=G=B. A seguir o circuito "trava" a câmera nessa regulagem, até que uma outra seja feita. E você já percebeu então que para onde a câmera for apontada a partir de agora ela estará sempre corrigindo o excesso de vermelho.

Se a câmera for levada para outro local ou se a iluminação no ambiente mudar, o processo deve ser refeito. E a tal superfície branca pode ser qualquer uma, desde que esteja sujeita (isso é importante) às mesmas condições de luz do local de gravação. Um cartão ou papel branco, uma camiseta branca e até mesmo uma folha de jornal em situações de emergência podem ser utilizados (o papel jornal não é muito branco mas ajuda - as letras, se pretas, não alteram o ajuste). Equipamentos profissionais e semi podem ser desligados e religados: o ajuste não se perde, uma vez que fica armazenado em um chip alimentado por uma pequena bateria.

Menos preciso do que o ajuste manual descrito acima, o modo auto white balance tenta o tempo todo fazer essa correção. O circuito eletrônico mede separadamente as intensidades dos componentes RGB da imagem e só efetua algum ajuste se houver um ligeiro predomínio de algum deles - se você apontar a câmera neste modo para o céu azul tenha certeza de que ela não irá torná-lo branco.

Outro tipo de ajuste, também não muito preciso, é feito apontando-se a câmera para a cena e cobrindo-se as lentes da mesma com uma tampa de objetiva translúcida (leitosa). A seguir, pressiona-se o botão white balance. Excesso de uma cor ou outra na cena irá no entanto atrapalhar este tipo de ajuste.

E existem os modos pré-fixados de ajuste, que já vem "prontos de fábrica": indoor, outdoor, fluorescent, etc..., que podem ser utilizados quando não houver tempo para um ajuste mais preciso. Seja qual for o ajuste, o caminho para obter-se imagens com cores mais próximas da realidade (e camisas brancas! ) passa pelo white balance, o ajuste do branco. _____________________________________________________________________

Todas as cores podem ser obtidas a partir das cores básicas RGB - Red, Green, Blue. A faixa azulada na pintura do ônibus possui muito azul e pouco vermelho e verde, por isso a mesma aparece escura na segunda e terceira imagens e clara na última. O branco, por sua vez, é formado por proporções iguais destas três cores.

As xícaras de café foram gravadas com uma câmera Mini-DV. Nas três primeiras imagens a iluminação foi feita com luz fluorescente comum. Na imagem 1, a regulagem outdoor da câmera diminuiu o azul, fato que somado ao excesso de verde/azul da luz fluorescente resultou no tom ligeiramente rosado. Na imagem 2, a regulagem indoor da câmera diminuiu o vermelho, que associado ao verde azulado da iluminação resultou em um azul ressaltado. A imagem 3 mostra a cor real das xícaras: foi batido o branco. Nas duas últimas imagens a iluminação foi mudada para luz incandescente. Na imagem 4, a diminuição do azul acarretada pela regulagem outdoor somada ao excesso de vermelho da luz incandescente resultou no tom alaranjado. Na imagem 5 a combinação estava correta: ajuste indoor com luz incandescente. A cor melhorou, mas o ajuste pré-fixado da câmera não consegue superar a precisão do ajuste manual da imagem 6, onde novamente foi batido o branco.