Há 10 anos atrás em uma visita a qualquer locadora de vídeo não encontraríamos um único DVD nas prateleiras. Somente no ano seguinte, em 1996, Philips, Sony, Matsushita, Toshiba e outras companhias introduziriam no mercado o revolucionário disco óptico que iria aposentar aos poucos a fita VHS. Visitas às locadoras nos anos seguintes mostrariam a movimentação nas prateleiras: cada vez mais espaço para DVDs, cada vez menos para as fitas. DVD-players, assim como celulares, há muito não são considerados artigos de luxo.

A evolução cada vez mais rápida da tecnologia faz aumentar mais e mais o acervo dos museus. Nessa época, há 10 anos atrás, estavam para nascer ainda as câmeras digitais: foi somente no final de 1995 que elas surgiram, com o formato Mini-DV e a VX1000 da Sony. O Mini-DV começou a ser desenhado em 1993, com a formação do consórcio HD Digital VCR, inicialmente com 10 empresas - em 1995 já contava com mais de 55 - que levaria ao lançamento do formato DV, ainda com o nome DVC (Digital Video Cassete), posteriormente mudado para DV (Digital Video).

Nesse mesmo ano a Panasonic fazia planos para o lançamento de uma câmera no formato DVCPRO, e no ano seguinte a Sony criaria o DVCAM. Até essa época no entanto, toda a edição de vídeo nos segmentos doméstico e semi-profissional era analógica. E, quase que exclusivamente, linear. Eram comuns anúncios de controladores de edição, dispositivos do tamanho de um teclado de micro de mesa que, efetivamente, controlavam VCRs (Video Cassete Recorders, os videocassetes): a fita original era inserida no VCR "A" e os pontos de in - out das cenas (HH:MM:SS) registrados no controlador, que acionava o PLAY, FF e RW do VCR "A" e também o PAUSE e REC do VCR "B". Nesse ano a JVC anunciava o controlador JX-ED11, cuja precisão no corte era de 12 quadros, para mais ou para menos... e a Sony o RM-E1000T, que podia armazenar até 99 cenas... O RM-E1000T possuía gerador de caracteres embutido, capaz de gerar até 24 caracteres por linha e 12 linhas por página.

Como o "assunto do dia" eram os controladores de edição, discutia-se muito termos hoje em dia aos poucos já sendo esquecidos, como "assembly edit" e "protocolos de edição" (LANC, Syncro edit, Control-L, Control-M, RS-422, RS-232, Infrared...). Na cadeia montada com os VCRs e o controlador, podiam ser inseridos diversos equipamentos extras, como mixers de vídeo, tituladores, SEGs (Special Effects Generator), mixers de áudio, TBCs (Time Base Corrector) ... Assim, era comum também a propaganda de fabricantes desses equipamentos, junto com dezenas de marcas e modelos de controladores de edição.

A Videonics comercializava o Edit Suite A/B roll por 700 dólares, um controlador de edição com jog/shuttle para controle dos VCRs, com um pequeno visor LCD onde era possível ver a EDL - Edit Decision List, a lista dos pontos de in - out sendo montada. Capaz de registrar até 250 marcações de cenas, permitia exportar a lista para um micro. Para esse produto portanto, o papel do micro era simplesmente de armazenador de dados...

A edição-não-linear já havia chegado ao público, mas de forma restrita, seja pela qualidade do material editado nos equipamentos mais simples, seja pelo preço, nos equipamentos onde a qualidade era melhor. Placas de edição eram vendidas isoladamente (Video Blaster RT300), assim como produtos que incluíam placa + software (Fast Video Machine, já com o Adobe Premiere em suas primeiras versões) e equipamentos completos, incluindo o micro (Avid Media Suite Pro), estes ainda muito caros no entanto para a época. Um sistema típico para edição não-linear de conteúdo VHS podia custar em torno de 5000 dólares... com HD de 1Gb (950 dólares).

As características dos micros da época, claro, eram muito diferentes das dos micros de hoje: a RT300 por exemplo exigia um micro 386 com no mínimo 33Mhz de velocidade de processador e 4Mb de RAM. A resolução de captura era 320 x 240 (qualidade VHS) e o playback na tela tinha que ser feito em uma janela menor: em full screen somente com menos de 30qps.... sem DVDs, as saídas mais utilizadas eram um prosaico CD-ROM para ser visto em outros micros ou a regravação em fita do conteúdo editado.

Além de armazenar logs de cenas e começar a editá-las, o micro foi durante algum tempo também utilizado para uma função intermediária: atuar como controlador de edição de VCRs, no lugar dos equipamentos de mesa mencionados acima: o Editizer 3.0 da TAO, para PC ou Macintosh, (sim, ainda se falava "Macintosh"...), podia controlar até 3 VCRs, rodava em Windows 3.1 e tinha o atrativo era poder armazenar centenas de logs de cenas...

Todas câmeras comercializadas nesse segmento eram analógicas (VHS, VHS-C, S-VHS, S-VHS-C, 8mm e Hi8), mas traziam já alguns efeitos digitais, como sobreposição de imagens, strobe digital, wipe digital...etc... O visor LCD, introduzido pela Sharp e sua inovadora Viewcam tornava-se mais comum: a nova linha Handycam Vision da Sony era anunciada com o atrativo de permitir o playback instantâneo dos vídeos gravados em um visor LCD colorido da câmera... A Canon fazia sucesso com seu sistema VL: sua câmera Hi8 L2 possuía lentes intercambiáveis (única no segmento até hoje a oferecer essa possibilidade, atualmente com a XL2) e um adaptador para uso das lentes Canon utilizadas em máquinas fotográficas.

Eram muito comuns anúncios de câmeras VHS: a Hitachi comercializava a VM3700A VHS para usuários domésticos por 800 dólares. Esses equipamentos, grandes, geralmente possuíam poucos e restritos controles: o zoom contava somente com 1 velocidade, às vezes 2 e raras vezes podia ser variável (comum em todas as câmeras hoje em dia). E muitos fabricantes de câmeras de vídeo dessa época já deixaram o mercado, alguns provenientes ainda da época do Super-8 ou fabricantes de outros equipamentos: Minolta, Ricoh, GE, Nikon, RCA, Quasar, Goldstar, Magnavox ...

Microfones sem fio já eram comercializados - a Azden anunciava o WR2-PRO, o primeiro receiver para câmera com 2 canais independentes de som, permitindo o uso de 2 microfones sem fio simultaneamente. Nessa época surgia a AG-456 da Panasonic, a S-VHS que junto com a M-9000 faria a festa dos profissionais de eventos. Enquanto a Hitachi lançava a VM-H81A no formato Hi8 com a função Optical-Link, que permitia ver as imagens gravadas colocando a câmera próxima à TV (via infravermelho), a Canon anunciava a pequena ES2000, a primeira câmera do segmento consumidor com zoom óptico de 20X utilizando OIS (Optical Image Stabilizer). E em muitas casas era comum o uso do adaptador para assistir fitas VHS-C nos VCRs VHS da sala, colocados ao lado da TV - o conceito Home Theater ainda estava para nascer.

Na NAB 1995, além do anúncio do DVCPRO da Panasonic e do Digital-S da JVC, ainda na fase de protótipos, enquanto a Videonics anunciava seu novo controlador de edição, o Edit Suite, a NewTek exibia o novo Toaster for Windows, uma caixa metálica com um visor LCD que podia ser conectada a monitores de vídeo para edição-não-linear, com 2 HDs removíveis de 1Gb cada. Exigindo um PC 386 para rodar, custava 10.000 dólares. E a Play mostrava o Trinity por 6.000 dólares, também um editor não-linear, feito para rodar no recém lançado Pentium... A Fast Electronics trazia um equipamento completo para edição (turnkey), o Video Machine, montado com um micro Compac. Discutia-se então, com esses lançamentos para PC Windows, se não seria o final do Toaster desenvolvido para a plataforma Amiga da Commodore.

Um mundo muito diferente de hoje, como será em 2015 e os ultrapassados formatos Mini-DV e HDV, com imagens gravadas nos antigos discos Blue-ray de duas camadas com somente 50Gb de espaço - um exagero para a época...