Nosso mundo é analógico, não digital. Os números foram criados pelo Homem na tentativa de quantificar as grandezas que estavam ao redor dele. De uma maneira nunca exata, porém com maior ou menor precisão, tornou-se assim possível registrar diversos fatos do cotidiano. A altura de uma pessoa, o quanto choveu em um determinado dia e o peso da farinha que vai no pão: através dos números e seus dígitos anotamos dados que de certa forma são cópias de informações que estão na natureza, que fazem parte do dia a dia de nossas vidas.

A outra forma de se fazer "cópias" dessas informações, sem usar números, é através da analogia: uma vara de madeira com exatamente a mesma altura dessa pessoa, um vaso contendo a água despejada pela chuva exatamente acima do mesmo e um punhado de areia que equilibra exatamente a balança do outro lado são alguns desses exemplos.

Enquanto não haviam computadores a eletrônica era toda ela analógica: com seus resistores, capacitores e outros dispositivos fazia funcionar de rádios à valvula a toca discos de vinil - onde a agulha dava saltos exatamente proporcionais ao volume sonoro das ondas ali registradas.

Os computadores vieram facilitar - e muito - o nosso cotidiano. Trouxeram velocidade milhões de vezes maior do que a que os processos analógicos podiam atingir e também, entre outras coisas, a clonagem perfeita de seus registros - outro ponto fraco dos processos analógicos. Mas também trouxeram a imprecisão, contrapondo-se à exatidão das formas analógicas. Assim, as imagens digitais de hoje aproximam-se muito das imagens registradas em película, seja ela fotográfica ou cinematográfica - mas ainda não as igualam.

Só que, em muitas aplicações, o que "falta" para igualar ou mesmo superar a qualidade dos registros analógicos é muito pouco, muitas vezes imperceptível ao consumidor comum desses produtos. Da mesma forma que alguns percebem nuances sutis em discos de vinil e amplificadores valvulados, não observadas nos atuais equipamentos de áudio em uso, outros fazem questão do cinema tradicional em película e outros ainda são amantes da fotografia revelada em banhos químicos.

Aqui há lugar para todo mundo, e, particularmente, considero que os riscos, as constantes sujeiras e as flutuações na projeção tradicional não compensam a limpeza e a estabilidade da imagem digital, como já é possível comprovar durante a apresentação dos comerciais que antecedem os filmes em muitas salas em nosso país, projetados em diferentes equipamentos digitais de diferentes fabricantes (Rain Networks e TeleImage). Em diversas salas o próprio filme também é às vezes apresentado nesse formato, embora a esmagadora maioria do público nem se dê conta. Aliás, para esse grande público o que importa mesmo é a qualidade do filme, do roteiro, da direção e das interpretações.

A qualidade do formato de vídeo digital vai com o tempo igualar e superar o registro analógico em película em todas as suas fases, desde a captação até a apresentação, seja em salas de exibição ou no televisor doméstico. O mundo continuará sendo analógico, mas mudaremos em definitivo a forma de enxergá-lo, para melhor, através do digital.