No dia primeiro de agosto de 1914, sir Ernest Shacketon partia de Londres com seu navio Endurance rumo ao Atlântico Sul, buscando resgatar o prestígio da Inglaterra perdido para a Noruega quando o navegador Roald Amundsen conquistara pela primeira vez o continente gelado da Antártida. Como isso já havia sido feito, Shackleton pretendia agora realizar a primeira travessia de lado a lado do continente, "a última grande expedição polar que ainda resta por fazer" conforme disse à época.

O navio seguia viagem carregado de víveres, mantimentos, diversos instrumentos e mais de 60 cães puxadores de trenó. Para os momentos de lazer da tripulação, levava também 5.000 agulhas de costura. Não, não destinavam-se a eventuais remendos nas velas! Acontece que, ao fazer as encomendas antes do navio zarpar, o encarregado de preparar a lista havia esquecido de especificar que eram agulhas "de gramofone". Só depois, em pleno Atlântico, é que descobriu-se que tinham de reserva 5.000 agulhas de costura e um pacotinho de agulhas de gramofone...

Conclusão: os momentos musicais passaram a ser racionados - naquela época, as agulhas gastavam-se rapidamente no atrito com o disco e poucas canções após já tinham que ser descartadas. No mundo dessa época, contava-se nos dedos de uma mão os aparelhos relacionados com som & imagem existentes: o gramofone, a máquina fotográfica, o rádio, o telefone...

Muitas e muitas décadas depois, quando as primeiras camcorders surgiram unindo câmera e gravador em uma única peça, já havia muito mais aparelhos de áudio e vídeo, além de computadores. Aliás, microcomputadores e suas barulhentas impressoras de agulhas... Mas as escolhas ainda eram poucas: o som estéreo, os joguinhos eletrônicos portáteis, o videogame de console...

Poucos podiam imaginar no entanto a quantidade de equipamentos high tech que estariam décadas depois à nossa volta. Os notebooks encolheram em preço, em tamanho e aumentaram em capacidade, conversando em redes sem fio espalhadas por quase toda a cidade. PDAs passaram a executar funções antes restritas aos celulares, além de navegarem na Internet. Por sua vez, os celulares agora navegam na Internet, recebem e-mails, fazem fotos, gravam vídeo, editam arquivos dos micros, além de fazerem o papel de rádio FM e diversas outras funções, tornando-se quase um canivete Swiss Army: calculadora, agenda, calendário, trocador de mensagens, jogos...

Alguns incorporam recursos dos mp3 players, outro tipo de equipamento que explodiu no mercado. Enquanto a Apple coloca no mercado um iPod com disco de 80Gb, capacidade maior do que muitos laptops e mesmo micros de mesa, tende a focar energias no mercado do tocador, em detrimento do desenvolvimento de novas versões do seu sistema operacional Mac/OS. Alguns tocadores de áudio também exibem fotos e vídeo, além de atuarem como pen drive, entre outras funções. E, por falar nisso, estes pequenos dispositivos de armazenamento já conseguem guardar 8Gb de informação - por enquanto. Sistemas de áudio sem fio para home theater são capazes de armazenar o conteúdo de mais de 700 CDs em um disco rígido. Que, aliás, está presente também, em miniatura, em muitas câmeras de vídeo do segmento consumidor. Consoles de videogame trazem agora resolução HD utilizando discos de laser azul, como o Playstation 3 com o Blu-ray. E guia de ruas, como o serviço Co-piloto da Vivo chegam aos celulares, utilizando a tecnologia GPS.

A lista pode ainda ser extendida com os minúsculos fones de ouvido sem fio (tecnologia bluetooth), os telefones VOIP e as telas de LCD, plasma e retroprojeção - prevendo-se no horizonte novas variantes, como OLED (já há protótipos em tamanhos similares às de LCD) e laser. Projetores de todos os tipos e tamanhos são lançados constantemente. E, finalmente, os diversos formatos digitais de vídeo, abrangendo, para citar só o segmento consumidor, Mini-DV, DVDCAM, HDD e HDV.

Diante de tantas possibilidades e com tantas ferramentas à mão, o consumidor pode-se sentir perdido, bem distante do sentimento reinante a bordo do Endurance em relação às opções dos equipamentos de que dispunham naquela época. Mas basta pensar nesses equipamentos como um grande conjunto de ferramentas muito úteis, dentro de uma grande maleta. Não é qualquer ferramenta que serve para qualquer uso. Assim, o procedimento correto é, antes de abrir essa maleta, saber qual a nossa real necessidade, para que escolhamos a melhor ferramenta possível em custo x benefício para aquela determinada situação.

Em videoprodução, os formatos HDV, MIni-DV e os demais citados tem, cada qual, seu uso específico, suas vantagens e desvantagens. O que tem que ser feito é estudar e analisar as características de cada um antes de se adquirir determinado modelo ou formato de câmera.

Hoje, temos mais trabalho envolvido nas escolhas do que décadas atrás, mas, por outro lado, somos muito melhor acessorados pela tecnologia do que naquela época.