O papel do cinema e da TV é levar as pessoas a olharem através de uma janela: no cinema, estamos dentro de uma caixa escura, onde só temos essa janela para olhar o que acontece do lado de fora. Na TV, espera-se que façamos o mesmo, ao desligarmos nossa atenção de tudo o que se passa à nossa volta. Essa janela, restrita, só mostra um pequeno pedaço do mundo virtual das histórias: para cima, para baixo e para os lados nada vemos, nada sabemos, tudo supomos. Como em um teatro de marionetes, esse espaço ao redor pode ser utilizado para esconder coisas, desde os equipamentos utilizados para fazer aparecer dentro da janela o que se quer, como pedaços da realidade que não se quer mostrar. Sem essa possibilidade, fazer cinema ou TV seria muito mais complicado - por outro lado, com essa possibilidade, surge a necessidade do uso da criatividade, inteligência e toda a arte envolvida em mostrar fragmentos para costurá-los em um roteiro cujo objetivo não é outro senão prender a atenção do expectador. Em outras palavras, fazê-lo olhar por aquela janela e "entrar" na história.

Boa parte da arte de quem realiza um filme reside aí: o mostrar e o não mostrar, o que leva aos enquadramentos do diretor de fotografia e seus significados. O que também leva aos diversos "dialetos", linguagens de câmera utilizadas para contar uma história. Mas um filme é ainda muito mais do que isso, posto que as imagens capturadas pela câmera podem sofrer um outro tratamento, na fase de pós-produção. É quando entra em cena a edição, com poder de mudar completamente o rumo da história ao rearranjar cenas. Mas, mais do que isso, a edição tem também um papel importante ao sincronizar, ao também esconder ou mostrar coisas, ao remapear o tempo ou fazer um show de fragmentos de imagens como na briga dos Capuletos em Shakespeare Apaixonado.

Toda essa parte nas mãos dos técnicos gira em torno dos que representam papéis nessa realidade fictícia: as atrizes, os atores e suas estrelas e ensaios. Mas muito mais trabalho esconde-se atrás deles, literalmente, quando se tem os cenários, as maquetes reais e virtuais. Junte-se a isso tudo as páginas e páginas dos roteiros, as reuniões de técnicos especializados e um sem número de pessoas que figuram nos créditos subindo lentamente na tela - ou flutuando em letras no ar, nas projeções em 3D.

Todo esse imenso trabalho traz um componente muito importante na chamada sétima arte: pode ser realizado por um batalhão de pessoas, ou apenas por uma única, claro, cada trabalho dentro de sua categoria, mas todos candidatos, respeitadas algumas limitações técnicas, a brilharem na tela branca estendida à frente das poltronas dos cinemas.

O que se destaca nisso tudo é a presença cada vez maior de trabalhos realizados com captura em vídeo, especialmente em HD, consistindo na tão falada e esperada democratização desse meio de comunicação. Esse tipo de mídia pode baratear muito esses trabalhos, quando em mãos competentes e criativas. E os tempos de crise mundial irão apenas reforçar essa tendência.