a luz considerada como de cor branca na verdade é uma mistura de todas as cores básicas presentes no arco-íris: vermelho, alaranjado, amarelo, verde, azul, anil e violeta. No entanto, nem sempre a proporção destas cores componentes é a mesma, o que faz com que o resultado final, embora aparente ser branco para o cérebro humano, na realidade tenda para tonalidades avermelhadas, azuis ou intermediárias. Isto porque, como será visto adiante, o cérebro humano possui mecanismos de correção para esses desvios.

Em uma sala iluminada unicamente por uma lâmpada incandescente, uma pessoa escreve em um papel sulfite, para ela, branco. Se esta pessoa leva o mesmo papel para outra sala, esta iluminada unicamente por uma lâmpada fluorescente, o papel parecerá ainda branco. No entanto, na primeira sala, tudo, não só o papel, é iluminado por uma fonte de luz onde as cores básicas não estão equilibradas: a luz 'branca' emitida pela lâmpada incandescente na verdade não é branca e sim ligeiramente alaranjada. Assim, a cor 'branca' da folha de papel (ou seja, a luz refletida pelo papel) tende para o laranja, e os demais objetos não brancos adquirem tonalidades ligeiramente diferentes das que adquiririam se fossem iluminados com uma luz verdadeiramente branca.

Na segunda sala ocorre processo semelhante, porém tendendo para o verde, pois a luz 'branca' emitida pela lâmpada fluorescente é ligeiramente esverdeada. No entanto, o cérebro humano 'sabe' que a folha é branca e corrige estas distorções: nas duas salas, a percepção obtida será a mesma, a de estar-se diante de uma folha branca. Porém uma câmera fotográfica ou de vídeo não possui 'inteligência' embutida, ou seja, não vai efetuar esta correção: na foto / vídeo, a folha de papel na primeira sala aparecerá com tonalidade ligeiramente laranja e na segunda, ligeiramente verde.

Embora no exemplo da folha de papel o cérebro humano 'saiba' que a cor daquele papel é branco (por tê-lo observado em diversas situações e ter armazenado essas informações) e portanto o 'veja' como branco, o mesmo não ocorre necessariamente com outros objetos e outras cores, onde o cérebro não tem como 'advinhar' a cor real. Nesta situação, tanto o olho humano como a câmera 'vêem' a cor de um objeto de acordo com o tipo de luz que o ilumina. Assim, conforme o sistema subtrativo de cores, as listras vermelhas de uma blusa, parecerão quase pretas em um lugar onde a iluminação utilizada seja fluorescente, porque este tipo de lâmpada emite muito pouca luz vermelha - e portanto haverá muito pouco vermelho a refletir nas listras. No entanto, a mesma blusa sob iluminação solar apresentará as listras em vermelho vivo.

Isso mostra que o cérebro humano só consegue 'corrigir' a cor quando conhece um padrão de referência para a situação em questão. Para ele o papel será sempre branco e a face de uma pessoa não será nunca ligeiramente esverdeada. Porém ele não tem como advinhar a cor real das listras da blusa no exemplo acima. O termo 'cor real' assume por convenção a cor apresentada quando a pessoa/objeto são iluminados por uma luz branca onde seus componentes estejam todos equilibrados, como por exemplo a luz do Sol na maior parte do dia com céu aberto.

A câmera, sem correção alguma, apresentará a imagem tal qual a vemos, ou seja, no exemplo anterior, a tela do monitor (se corretamente calibrado) também mostrará a face ligeiramente esverdeada da pessoa em questão, assim como ela se apresenta na realidade. Porém o cérebro humano corrigirá o problema, tanto na realidade como ao observar a tela do monitor: só perceberemos o tom esverdeado ao tirarmos os olhos do monitor, olharmos para a pessoa sendo gravada e efetuarmos a comparação.

Ainda assim justifica-se a correção (write balance) por dois motivos: primeiro porque o cérebro não corrige cores de objetos para os quais não possui padrão de referência e segundo porque nas situações onde existe padrão de referência, a cor é sempre percebida como mais agradável quando não necessita da correção efetuada pelo cérebro, como pode-se perceber comparando-se duas imagens do rosto de uma pessoa, uma balanceada, outra não. Neste caso, com as imagens lado a lado, ele deixa de corrigir a imagem desbalanceada, pois tem o padrão da imagem balanceada como referência - vide exemplo acima citado do monitor.

Portanto, a cor com que determinado objeto se apresenta está intimamente ligada ao tipo de luz com que o mesmo é iluminado.

No século 19, um físico escocês chamado Lord Kelvin criou uma forma de medir os desvios de proporção na composição da luz branca, ou seja, quando predominava o vermelho, o amarelo, o azul, etc... Por este processo, imaginava-se um hipotético objeto totalmente negro (chamado por ele de 'corpo negro' , porque absorveria 100% de qualquer luz que incidisse sobre ele) que, ao ser aquecido, passaria a emitir luz. E, além disso, a luz emitida iria mudando gradualmente de cor. A analogia era feita era com um pedaço de ferro, aquecido cada vez mais: o chamado 'ferro em brasa', inicialmente de cor vermelha, passava por várias tonalidades (amarelo, verde, azul) conforme a temperatura subia mais e mais.

Lord Kelvin criou então uma escala de temperaturas, à qual deu seu nome e estabeleceu que à temperatura de 1.200 K (graus Kelvin) o corpo negro tornaria-se vermelho. E que quanto mais aquecido, mais sua tonalidade se alterava, correspondendo a temperaturas intermediárias. Assim, a escala Kelvin de temperatura de cor associa cor e temperatura, como indicado no desenho abaixo:

A escala Kelvin, além de utilizada na representação de cores, é uma das escalas utilizadas para medir quaisquer temperaturas. Nesta escala, o valor zero é associado à temperatura correspondente ao chamado "zero absoluto". Esta temperatura corresponde a -273,3 graus na escala Celsius de temperatura; a temperatura de 0 graus na escala Celsius corresponde à 273,3 graus na escala Kelvin de temperatura. À temperatura de mais ou menos 700 graus Celsius (ou 973,3 K) o corpo negro hipotético começaria a emitir luz, com a tonalidade vermelho escuro. Em seguida, quanto mais aquecido, mais as tonalidades iriam variando, até atingir o azul. Esta associação de cor e temperatura foi validada mais tarde em experiências efetuadas pelos cientistas.

Há aqui uma definição, utilizada tradicionalmente por fotógrafos, que costuma causar confusão à primeira vista: cores consideradas 'quentes' são cores avermelhadas e cores consideradas 'frias' são cores tendendo para o azul. Esta concepção, como se pode ver pelo desenho acima, é exatamente o inverso do que mostram as indicações de temperatura associadas às cores. Assim, quando se fala em uma tonalidade 'fria', deve-se imaginar altas temperaturas na escala acima, e o inverso para tonalidades 'quentes' . A tabela a seguir mostra várias fontes de luz e temperaturas associadas:

A tabela mostra a luz do luar situada na faixa de 4.100 K, distante das tonalidades mais azuladas, como pode ser verificado no gráfico de cores situado acima da tabela. O que explica, no entanto, a percepção pelo olho humano da tonalidade azulada da luz lunar é um efeito chamado Purkinje. O olho humano não é igualmente sensível à todos os comprimentos de onda do espectro luminoso, especialmente quando as condições de iluminação (mais claro / mais escuro) mudam. Johannes von Purkinje descobriu este fenômeno, ao observar, durante uma caminhada ao anoitecer, que flores azuis pareciam mais brilhantes do que flores vermelhas. No entanto, durante o dia, ocorria o inverso, as flores vermelhas eram as mais brilhantes. Isso explica porque para o cérebro a luz do luar parece mais azulada, originando-se desta percepção o emprego de filtros azuis na montagem de iluminação cênica para imitar este tipo de luz.